A tarefa cotidiana de todo homem
- Robson Oliveira

- 8 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Nós, homens, trabalhamos com afinco na tarefa ordinária de adequar o mundo a nossos mesquinhos interesses, sejam os mais básicos ou os mais extravagantes
Sou, sim, um homem dogmático. Aliás, já disse isso antes, tenho até certezas inquestionáveis, as quais reservo para uma parte da minha vida. Sim, tenho algumas certezas e não me incomodo com suas existências.
Não me incomoda nada a certeza da massa atômica do ouro; não fico sem dormir por causa da órbita da Terra no sistema solar; não me incomoda nada a certeza da data da conquista do heptacampeonato brasileiro do Flamengo; não perco o sono por saber com certeza de que 01 de janeiro de 2019 inaugurou momento auspicioso da história política do Brasil. Sim, tenho muitas certezas como essas: irrefutáveis. Mas no campo dos valores, aí não tenho tantas assim.
Com frequência a vida me ensina a ser mais paciente com aqueles dos quais não tenho muito cuidado; várias vezes uma palavra de sabedoria já surpreendeu-me pela sua juventude; outras tantas fui traído pela precipitação e prepotência própria. A ética não permite tanta segurança epistemológica. Contudo, mantenho um elemento da personalidade humana que a mim me parece bastante estabelecido e do qual até hoje não vi contrastado: os homens são os animais mais hábeis em destruir muros ou construir pontes quando lhes apraz. Veja que não tomo isso como elogio! Quero dizer que, quando nos interessa, nós homens somos capazes tanto de levantar impossibilidades intransponíveis quanto facilidades irreais. E frequentemente isso acontece com a maior desfaçatez, sem corar as fauces. Nesse ponto, lembro-me do Evangelho de Mateus: a parábola do camelo e do buraco de agulha (Mt 19, 24).⠀
Eis o que todos os homens fazem todos os dias, desde o nascimento até o obituário: criar para si buracos de agulha cada vez maiores ou camelos cada vez menores (Chesterton). Todos trabalhamos diuturnamente para tornar conciliável o que é, por natureza, impossível de se realizar: servir com igual desvelo a dois senhores, subir em um camelo e passar com ele por estreita passagem.
Quero dizer que nós, homens, trabalhamos com afinco na tarefa ordinária de adequar o mundo a nossos mesquinhos interesses, sejam os mais básicos ou os mais extravagantes. Para tanto, é indiferente o método escolhido. É igualmente eficaz criar exceções sem cabimento – que equivale a alargar o tamanho do buraco da agulha para torná-lo menos incômodo; ou minimizar ao máximo as tensões com nossos interesses, sem perdê-los de vista – que significa diminuir o camelo para não resvalar nos limites dados. No campo teórico, por exemplo, podem deturpar o Evangelho, querendo alargar o caminho estreito e estreitar o caminho largo. Com isso quase dizem o contrário do Senhor: difícil é perder-se e fácil é ganhar o Reino do Céu.
Convertamo-nos, caros. E lembremo-nos o quanto antes que contra caminho apertado, só dois remédios ordinários: jejum e abstinência. E a oração, que consegue o extraordinário da misericórdia do Deus Todo-Poderoso.









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