Uma lição da Epifania do Senhor
- Robson Oliveira
- 9 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
É bastante comum que receba pedidos de auxílio na construção de uma espiritualidade, especialmente de recém-convertidos ou de estudantes universitários. Em razão do predomínio de certa visão da religião, muitos jovens acreditam mesmo que seria incompatível a vida acadêmica, bem como a profundidade cultural, com a virtude teologal da fé. Por causa dessa equivocada premissa, de que fé e razão são inimigas, creem ser incompatíveis a vida profissional e o chamado pessoal à academia com a profundidade e a espiritualidade da religião. Não é incomum que tais pessoas vejam a fé da infância ou da família como algo ultrapassado ou relegado a pessoas ignorantes. Esse sentimento (pois é um sentimento e não uma dedução racional) levanta uma barreira perigosa no interior das pessoas, pois faz com que tenham duas vidas, duas mentes, dois corações. A fé que receberam de seus pais e a academia que ora frequentam. Ocorre que uma condição para o Amor a Deus é amá-lO todo e inteiramente, de todo coração. Na Festa da Epifania, uma luz é oferecida para quem se sente um tanto "fora de lugar" diante da fé em Jesus Cristo.

Os Magos que visitaram o Menino Jesus e sua Santíssima Mãe chegaram até o Menino Deus apenas usando as ferramentas da sua inteligência. Eles não tinham a fé abraâmica, nem o profeta Miqueias para lhes encurtar os caminhos. Os Magos precisaram fazer a jornada inteira, o trajeto todo, sem os atalhos oferecidos por Deus pela Revelação, sem os avisos dos Profetas nas Escrituras Sagradas. Eles simplesmente perscrutaram a literatura universal, atentaram para os fenômenos físicos a seu redor, confiaram na sua inteligência e partiram para conhecer o Rei que acabara de nascer.
Percebam que os Magos são o paradigma do bom cientista: culto, pois leu os clássicos antes deles; atento aos eventos a seu entorno; confiante na razoabilidade do universo; confiante nas conclusões a que chegou; disposto a comprovar tudo o que deduziu. E mais um dado importante fica claro na Festa dos Epifania: a teoria é muito mais importante que a prática.
Nem sempre foi assim, mas, em nossos dias, há uma tara por praticidade. Há uma mania por reduzir tudo à simplicidade e à velocidade. Pessoas boas, pessoas comprometidas com o Senhor Jesus tentam reduzir as reflexões filosóficas e teológicas a 2 ou 3 afirmações, como se toda a construção intelectual em torno da Revelação fosse dispensáveis, como se as difíceis discussões teóricas fossem desnecessárias. Pior: muitos ainda se gabam do seu reducionismo ingênuo: "é que eu sou muito prático, não gosto destas discussões sem fim". O que muitas destas boas pessoas não sabem é que o domínio da praticidade sobre a teoria é fruto maduro de certa escola de filosofia, nascida no século XIX, que rejeita não só as dificuldades teóricas, mas a verdade mesma.
O pragmatismo, o que é feito, a prática não pode ser critério para julgar a vida nem para orientar as decisões individuais. E toda pessoa sabe disso. Muitas coisas "se fazem" pelo mundo e nem por isso são razoáveis. A vida prática pode apontar para algum lugar, para alguma situação, mas é a teoria quem deve julgar a prática. Os Magos sabiam disso.
Vejam: os Magos perscrutaram as ciências, avaliaram fazer uma viagem longa para ver um Rei, efetivamente realizaram a viagem com os enormes riscos que naquela época comportava tal empreitada e, ao chegar a Jerusalém, o que vão fazer? Vão até o Rei que ora reina. Se um Rei acabou de nascer, a lógica aponta que era preciso ir até o Rei que agora reina para que ele apresente o novo Rei que acabou de nascer aos viajantes. Mas os Magos não seguem a lógica. Eles foram convencidos pela teoria! Não importa o que pareça, aquele não é o Rei que acabou de nascer. Mais: o Rei recém-nascido habita outro lugar. E a teoria contrasta sua lógica e os leva até outro lugar.

E ao chegar na Gruta (ou casa), o que veem os Magos? Uma mulher pobre com seu pobre filho nos braços. E apesar de todas as fibras de seu corpo rejeitarem, apesar do ambiente não apontar para isso, apesar da corte e seus confortos estarem em outro lugar, é aos pés dessa família pobre que os Magos deitam seus presentes. E por quê? Por que foram convencidos pela teoria. A Estrela, que tudo começou, apontou aquele lugar como o local onde o Rei seria encontrado, não o Palácio de Herodes. A Estrela, que tudo começou, dava testemunho do pobre bebê, não do velho monarca. A Estrela, que orientou toda a jornada, parou sobre aquele casebre, não sobre a corte herodiana. E os Magos obedeceram à teoria, não à prática.
Aprendamos a dar mais valor à teoria, pois a verdade habita no Lógos, não no Pragma. Pragmatismo é argumento perigoso, pois pode esconder artimanhas demagógicas. A verdade, quando encontrada, sempre nos leva aos pés de Jesus e de Maria Santíssima, sua mãe.
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