Mestres em humanidades
- Robson Oliveira

- 7 de mar. de 2022
- 3 min de leitura
A família é a primeira escola de virtudes, a primeira escola de humanidades, poder-se-ia dizer, na qual somos admitidos em nossas vidas. Mas, se os pais não estão prontos para serem mestres nessa escola, é preciso pedir ajuda.
Se a família é a primeira escola de humanidades, como diz São Paulo VI, se é no lar onde as crianças vão receber as lições mais elementares sobre relacionamento e socialização, não é exagero perguntar: quem serão os mestres das crianças nessa escola? Quem apresentará as virtudes às crianças, nessa escola de humanização? Quem serão seus mestres? Nunca é demais lembrar que o mito do autodidatismo é fruto maduro do modernismo filosófico e nada tem a ver com a educação clássica. Por isso, a pergunta resiste: quem ensinará virtudes a nossos filhos?

De fato, é uma pergunta relevante. Quem ensinará a prudência às crianças? O pai que aposta em jogos de azar e que dirige depois de beber na festa de fim de ano? Quem ensinará paciência à filha mais velha? A esposa descompensada e histriônica, que não suporta uma única contrariedade? E a virtude humana da religião (sim, religião é virtude humana, diziam os gregos, 500 anos antes de Cristo)? Quem a ensinará às crianças? O pai mezzo-ateu, mezzo-calabresa? Com efeito, a escola de humanidades que é o lar precisa ter bons mestres, ou formarão crianças à medida de seus pais. Pois a maçã não cai muito longe da árvore, não é verdade?
O fato é que a família, nenhuma família, é capaz de formar plenamente seus filhos sem auxílio, pois esta sociedade não possui todas as ferramentas para tal tarefa. Não é comum que se diga, mas a família, esta mesma que é célula-mater e onde se formam caráter e personalidade, não é uma sociedade perfeita. Faltam-lhe instrumentos para levar a bom termo uma das funções essenciais do matrimônio: a educação dos filhos. Diz Pio XI: “A família é uma sociedade imperfeita, porque não possui em si todos os meios para o próprio aperfeiçoamento” (Divini Illius Magistri). Então, como formar pessoas melhores, pessoas excelentes, se as famílias não são perfeitas?
Um auxílio evidente vem da Igreja, a única sociedade sobrenatural. Por que possui todos os meios para realizar seu fim, que é a santificação do homem, a Igreja é uma sociedade perfeita e, por isso, torna-se excelente auxílio às

famílias na execução da função de educar os filhos que Deus prover aos pais. Vale lembrar que uma das funções do matrimônio subdivide-se duplamente. A principal é formar uma comunidade de amor; a segunda, é gerar filhos para os Céus e educá-los segundo os mandamentos do Senhor. Por causa de sua fundação espiritual, a Igreja pode auxiliar aos pais nesta função educativa, que nem toda família possui condições de executar com perfeição. Na Igreja, os pais devem procurar a ajuda para formar também humanamente seus filhos, pois a história bimilenar desta instituição a qualifica para oferecer às famílias os meios para tal.
Outro auxílio às famílias vem também da sociedade civil, que embora imperfeita em seus indivíduos, é perfeita em sua natureza, pois possui os meios para executar seu fim próprio: o bem comum. Assim, na sociedade civil, os pais encontrarão auxílio - neste caso, em outras famílias e com especialistas dedicados a esta tarefa - para formar as virtudes humanas em seus filhos.
Com efeito, a família é a primeira escola de virtudes, a primeira escola de humanidades, poder-se-ia dizer, na qual somos admitidos em nossas vidas. Mas, se os pais não estão prontos para serem mestres nessa escola, é preciso pedir ajuda. É preciso admitir que outros podem oferecer o auxílio que precisamos para tornar-nos pais melhores para nossos filhos. Afinal, ensina o adágio latino: “nemo dat quod non habet” - “ninguém dá o que não tem”. Se não se conhecem as virtudes, como adquiri-las e protegê-las, como ensiná-las aos filhos? Essa escola vai gerar repetentes. Repetentes para a vida. Na Igreja e na sociedade civil - precisamente, de especialistas dedicados a isso - encontrarão as famílias os auxílios necessários nesta tarefa urgente e dificílima, que é formar o rosto de Cristo em nossos filhos.








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