Uma reflexão sobre liturgia
- Robson Oliveira
- 3 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Mais um texto do Pe. Matheus Pigozzo. Dessa vez, o sacerdote oferece uma reflexão sobre liturgia.
Uma reflexão sobre liturgia
O que há de mais importante na Igreja é a liturgia. Afirmar isso no mundo do fazer, da praxis é quase um martírio. Na liturgia o que acontece não é uma produção humana. O rito sagrado nos abre um espaço para Deus vir e agir em nós e para que adoremos o Senhor. O homem em seu orgulho se interessa pelo o que ele próprio faz e a mentalidade litúrgica tem se esvaziado porque a liturgia tem se tornado um espaço de agradar o homem e não a Deus.
O antropocentrismo litúrgico se revela, muitas vezes sem que a pessoa perceba, no modo de pensar Liturgia. Se o foco não é mais a honra de Deus, mas sim agradar o homem, as músicas, os gestos, as vestimentas tudo será pelo homem e não por Deus.
A Liturgia não é mais um momento comum de meu dia vivido na horizontalidade, ela é uma pausa no comum para entrarmos no eterno. Só conseguiremos viver a liturgia quando entendermos isso – paramos o nosso hoje, a nossa atividade, o nosso produto e entramos num momento diferente no qual não somos protagonistas, mas recebedores.
Ora, se meu modo de falar e gestual não mudam, sento como para assistir TV, converso como se estivesse na fila da loja; se a música que escuto é o mesmo estilo que a do meu churrasco em família ou da banda famosa no show popular; se o modo como me visto não difere do meu passeio na praça, fica difícil de compreender que a liturgia não é um encontro de amigos ou um teatro, e sim meu mergulhar em Deus.
Parece estar arraigada em nossa cultura eclesial uma forma mentis e um modus operandi contrários ao verdadeiro espírito da Liturgia cristã. Temos nos preocupado se o povo vai entender tal coisa com clareza, se a música vai mexer com o emocional do povo e se terá atividade e roupinha destacada para cada “agente litúrgico”. E Deus? Ele não é o centro da liturgia?
Na liturgia, muito mais que um compreender sistemático e intelectual, tem que aparecer o sagrado. A alma intui algo do eterno que a eleva a Deus. Isso só se dá verdadeiramente quando o homem se despoja de seu ativismo e barulho e assume uma atitude contemplativa e receptiva diante do mistério… quando o homem para de querer protagonismos egocêntricos e explicações acadêmicas e se submete a um mistério celebrado que ele não é capaz de abarcar totalmente, mas deve se entregar humildemente.
Nós, sacerdotes, temos um papel preponderante na formação da concepção litúrgica de nosso povo, mas para isso parece termos que derrubar muralhas construídas e nadar contra o fluxo. Sei que é preciso também lutarmos contra uma tentação de tornar nossa missa atraente, não pelo rito sagrado da Igreja, mas por nossas qualidades pessoais e criatividades, como se fôssemos produtores de espetáculos que precisamos conquistar o público do circo vizinho. É preciso ter fé que só propagamos a fé e cultuamos a Deus verdadeiramente quando atualizamos mistérios e não quando nos apresentamos a nós mesmos.
É preciso uma conversão de mentalidade em geral. As vezes tem coisas tão enraizadas que parece não sabermos cortar. Deus nos ilumine. A fé só será vivida autenticamente quando a celebrarmos de forma verdadeira.
Pe. Matheus de Barros Pigozzo Arquidiocese de Niterói
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