Um espinho na carne
- Robson Oliveira
- 8 de jul. de 2018
- 2 min de leitura
Avançar e retroceder é a regra na luta espiritual. A estabilidade absoluta não existe. Certa vez, li em algum lugar que a batalha espiritual assemelha-se a uma viagem de barco, num rio. Ou remamos e avançamos; ou não remamos e retrocedemos. Não existe a possibilidade de uma âncora, que garanta avanços e assegure progressos. E parece-me que é assim por mercê de Deus.
Caso o homem visse crescer a olhos vistos as suas virtudes, caso percebesse uma ininterrupta caminhada em direção à perfeição, muito difícil seria não atribuir a si mesmo a causa de sua evidente melhora. E isso seria o pior que lhe poderia acontecer: acreditar que vem de si mesmo a causa de suas virtudes, de sua santidade. São João já nos ensinou, no discurso da Verdadeira Videira: “sem mim (Jesus), nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Sobre isso nos alertou recentemente o Papa Francisco, ao falar dos moralismos estóicos, dos novos pelagianos, que colocam em si mesmos a causa da felicidade e da salvação.
Nesse contexto é que São Paulo compartilha o que, para ele, é motivo de vergonha e de alegria: o espinho na carne. Algo que lhe incomoda, que lhe faz vergonha (pois lhe parece um anjo a esbofetear-lhe a cara), algo que se implora a Deus que se livre, mas que ao final, parece ser algo a que é um dom.
Para que a extraordinária grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi espetado na minha carne um espinho (2 Cor 12, 7)
A fim de que não se orgulhasse das benesses de Deus para consigo, São Paulo recebeu o dom do espinho. Não que o homem deva se orgulhar de suas limitações e pecados, mas Deus permite esses espinhos para que nos lembremos de que a Graça e a Salvação do Homem é Dom, nunca mérito. O espinho aparece como desafio que nos chama a novas alturas, nunca a que nos rebaixemos e nos acomodemos às próprias imperfeições. Essa é a diferença do que aceita o chamado à santidade, daquele que habitua-se à mediocridade dos espinhos, que a todos nivela.
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