Seus filhos pertencem a mim – Diário de Navarra
- Robson Oliveira

- 11 de nov. de 2018
- 4 min de leitura
Os isentões vivem dizendo que essa coisa de o governo controlar os currículos escolares é fantasia, que não existe doutrinação comunista nas escolas… Vejam o que está acontecendo na cidade de Navarra, Espanha. Os cidadãos não podem permitir que o Estado retire o direito natural dos pais de educarem seus próprios filhos, segundo seus próprios valores e dentro da lei natural e positiva.
… seus filhos já pertencem a mim
( por María García-Barberena)
“Você não pensa como eu, mas seus filhos já pertencem a mim.”
Era a sinistra frase usada por Hitler para atordoar seus inimigos internos. O Nazismo fez da escola uma ferramenta perfeita de lavagem cerebral. As chamadas crianças nazistas foram seu produto mais terrível. Crianças que, com a guerra perdida, com Berlim sitiada, puseram em xeque a soldados soviéticos e americanos, que, ao enfrentar o dilema moral de ter que se defender de pequenos fanáticos, perdiam alguns segundos inestimáveis e eram crivados por meninos e meninas que atuavam como autênticos demônios encolerizados. Contam os aliados, porém, que o pior não foi enfrentar hordas de meninas loiras com trancinhas, saias e pistolas, o mal veio depois. A lavagem cerebral naquelas crianças era tão brutal, sua doutrinação tão completa, que custou muitíssimo tempo para deixarem de saudar levantando a mão com a frase que ainda causa calafrios: “Heil Hitler”. De fato, recentes estudos afirmam que, aqueles que viveram sua infância no Terceiro Reich, seguem sendo muito mais anti-semitas que seus concidadãos. As crianças nazistas foram a última e mais perfeita obra do nazismo. Goebbels conseguiu criar o verdadeiro lobisomem ariano.
Este exemplo serviu para as democracias modernas aprenderem que não há nada mais efetivo para o êxito de uma ideologia que a doutrinação nas salas de aula, e não há nada mais vil que utilizar o poder para fazê-lo.
Acreditávamos que o governo Barkos já não podia ser mais sectário, mas pode, e como pode. Desta vez, não é nacionalismo, é ideologia de gênero. Aqueles que comungam de tal ideologia têm uma deslumbrante capacidade para taxar todo aquele que não o faz de machista, LGBTfóbico, fascista (que não falte este), retrógrado, velho e qualquer outra lindeza que a eles soe como grande insulto.
O problema da ideologia de gênero é que sua condição sine qua non é a aceitação social sem rachaduras, como pensamento único. Não querem entender que a sociedade é diversa e vê as coisas de formas diversas. Quem não passa pelo crivo é um inimigo a combater, o Torquemada¹ do século XXI, quando, na realidade, os Torquemadas são eles. A ditadura do pensamento único pretende que reconheçamos como liberdade de expressão a Voltonyc exaltando em suas letras a quem atira bombas na guarda civil e que censuremos a expressão “mariconez” em uma canção do grupo musical que mais, e da forma mais bela, tem feito pela visibilidade lésbica neste país.
A ditadura do pensamento único tem conseguido que vivamos amedrontados, atordoados, angustiados, para que não aconteça que alguma coisa que digamos um dia tomando uma cerveja se tome como um terrível insulto homofóbico, como um ataque à igualdade, sem importar o contexto, nessa voraz caça às bruxas a qual se tem lançado desde os preceitos da ideologia de gênero.
Pessoalmente, posso concordar mais ou menos com esta ideologia, mas o que não posso concordar é com a imposição. E esse é o problema do pensamento único, que se sente no direito e no dever de “resetar” o cérebro de toda a sociedade, e isso não é admissível em uma democracia. Que se deve educar em igualdade, concordamos todos, mas que isto seja uma desculpa para impor aos mais pequenos uma ideologia é inaceitável.
Para educar em igualdade não se deve ensinar às crianças que a desigualdade existe unicamente porque a sociedade é heteropatriarcal, capitalista e burguesa; ou que o amor romântico é uma construção do heteropatriarcado para subjugar a mulher. Aí não há igualdade, aí há uma forma muito concreta de entender o mundo e o papel das relações afetivo-sexuais na sociedade, e isso não tem porquê ser compartilhado por todos.
Eu, por exemplo, creio que a uma mulher ou a um homem, cis ou trans, hétero, homossexual ou bissexual, ou tudo de uma vez, a essa pessoa, iguala, empodera e faz muito mais feliz uma relação baseada no amor romântico, no par e na família que o poliamor aberto, em grupo ou por fascículos.
É minha opinião, e tenho direito a tê-la, não ofendo, nem critico, nem me importa, na realidade, como viva cada qual sua sexualidade, mas também não tolero que alguém critique como eu a entendo. E, desde já, não tolero que ensinem a meus sobrinhos que os modelos de família em que eles vivem são opressores, ofensivos e não igualitários.
A liberdade para educar nos valores que cada qual considere como próprios é um direito constitucional, e nenhum governo tem legitimidade para finalizá-lo. Tentar doutrinar os mais pequenos para ganhar a batalha ideológica é a maior ruindade em que pode cair um governante: “Você não pensa como eu, mas seus filhos já pertencem a mim”. Horrível.
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Maria García- Barberena Unzu é conselheira de UPN na Prefeitura de Pamplona e vice-secretária de afiliação e organizações de UPN.
¹ A autora faz referência a Tomás de Torquemada, primeiro inquisidor geral de Castilha e Aragão, no século XV, muito conhecido por sua perseguição aos judeus convertidos










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