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Reflexões Metafísicas – III: dupla tarefa da metafísica

Este é o terceiro ponto introdutório na reflexão sobre a metafísica e seus elementos de contato com a teologia. As outras meditações encontram-se aqui e aqui. Nesse tópico tratar-se-á das duas funções da reflexão metafísica.

Como foi dito anteriormente, a reflexão metafísica na tarefa teológica é inescapável. De fato, não é possível realizar uma abordagem teológica sem, concomitantemente, utilizar-se de algum fundamento metafísico, alguma ferramenta filosófica. A pretensão de fundar a hermenêutica da Revelação apenas com os ouvidos da fé é um equívoco, portanto. Ao negar espaço para a filosofia na labuta teológica, o que se faz é aderir a certa corrente filosófica determinada, que vê a natureza humana irremediavelmente ferida, tanto na vontade quanto na inteligência. E mais: entende a Criação como incompleta e imperfeita. Enfim, ao fugir da filosofia, o que se consegue é recolocar questões filosóficas de modo inconsciente. E a razão desta condição humana na reflexão teológica é a unidade entre fé e razão. A razão humana é de tal modo constituinte da sua natureza, que a simples tentativa de diminuí-la em favor da fé torna a reflexão teológica menos perfeita. Assim como preponderar a razão sobre a fé, como fizeram os positivistas do século XIX, gera uma sociedade como se viu recentemente: o século das guerras. É sob este panorama que as funções da metafísica no discurso teológico se tornam mais evidentes:

3. A Igreja insiste em dar aos seus membros, clérigos e leigos, uma formação filosófica de excelência: para que a totalidade de seus membros consiga dialogar com os homens de seu tempo, como fez Paulo no Areópago (At 17, 22-31), e assim propor a seus interlocutores a Boa Nova do Evangelho de Nosso Senhor de maneira mais palatável; para que a si mesmos a Revelação Divina, para leigos e estudiosos da Revelação, ganhe contornos mais nítidos e a espera por suas promessas adquira um caráter menos fantasioso. Por fim, a filosofia ampara a razão humana, em conjunto com a Teologia, na peregrinação terrestre revelando, como que numa antecipação, o que os homens esperam no Céu, muito embora se saiba que a visão plena só se terá na Glória.

A reflexão filosófica tem importância e valor próprios, mas se há uma tarefa teológica para a filosofia, a primeira função é, certamente, esclarecer para os próprios fiéis os conteúdos teológicos dignos de credibilidade. A filosofia em geral, e a metafísica em particular, tem a tarefa de preparar – obviamente sem condicionar – o dado teológico para a compreensão da inteligência. De modo algum o dado revelado será limitado por condições impostas pela metafísica, mas a própria fé pode alcançar melhor compreensão se tiver uma digna preparação filosófica. Assim, a função mais importante da metafísica é “ad intra“, isto é, esclarecer para cada pessoa os conteúdos da fé que acredita. Mas há também uma função “ad extra“.

Dupla função da metafísica


Outra tarefa do discurso metafísico é tornar o diálogo entre católicos e não católicos possível. A filosofia é como um arauto do Evangelho. Como foi dito em outro lugar, muitas vezes a filosofia – e a metafísica com mais propriedade – é o único Evangelho aceito pelos contemporâneos. Com a linguagem filosófica pode-se falar de amor, de sacrifício, de bem e mal, de vida e morte, sem que os ouvintes tenham arrepios preconceituosos. Abdicar dessa ferramenta é temerário, pois pode tornar o diálogo impossível ou infecundo. Importa preparar-se cuidadosamente nesse campo, a fim de dar respostas satisfatórias para os que ainda veem no discurso teológico apenas irracionalismo, misticismo ou superstição.

Por isso, a Igreja Católica preza pela melhor formação possível, para o clero e para os leigos. A fé é algo muito precioso para que se transforme em caricaturas supersticiosas ou recaia em crendices populares, em razão da falta de formação humana e descaso com os preâmbulos da razão. Assim como a Igreja não abdica do dever de pregar e anunciar, e tal tarefa não será bem realizada se o uso das ferramentas mais básicas de diálogo forem ignoradas.

Como ensina a parábola do Jovem Rico, ainda antecede a vida da Graça a vida da natureza. A fé ainda recebe da razão natural algumas luzes. Não se podem ignorar tais serviços por causa de preconceitos ou pura preguiça intelectual.

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