Primeiras Lições da Copa
- Robson Oliveira
- 4 de jul. de 2018
- 2 min de leitura
Pois é, estamos na metade da Copa do Mundo. Já passamos a fase de grupos, as oitavas e nos encaminhamos para as quartas de final. E as manifestações de desprezo por causa do evento esportivo arrefeceram-se nas redes. Aquele povo que quer politizar todas e cada uma das manifestações de alegria popular E essa é a primeira lição que o Brasil dá para os que pretendem politizar cada ação concreta, cada momento da vida pública e privada dos seus cidadãos: o homem comum sabe que nem tudo é política! É verdade que, como disse Aristóteles, o homem é essencialmente político, mas isso não significa que todas as inúmeras possibilidades de felicidade e aperfeiçoamento do homem se reduzam ao aspecto da pólis. Diria ainda mais! As melhores coisas da vida e as coisas mais importantes não são primeiramente relacionadas à política: o amor juvenil ou a dor do velório, a dedicação da maternidade ou a angústia antes da prova que pode mudar uma vida, as lágrimas do sucesso ou o silêncio da derrota, o encontro do sentido da vida ou o desespero por não encontrá-lo, tudo isso é muito mais importante e diz muito mais sobre a têmpera de cada indivíduo do que a legenda partidária a que mais simpatiza.

Nesses dias de Copa do Mundo, o brasileiro foi trabalhar mais feliz, pois sabia que a disputa esportiva de um evento mundial embalaria discussões, animaria disputas, fecundaria piadas. Um otimismo incontido, não a sombra mal-humorada e carrancuda de mimizentos, cobriu de verde e amarelo as ruas, as feiras, os botecos, as lavouras, as praias, os hospitais, todos os rincões do Brasil. Não um otimismo idiota, que crê sem motivos que tudo dará certo, mas um otimismo virtuoso, em grego se dizia eutrapelia, que sabe ver o lado bom da vida, apesar de seus desafios. E essa é a outra lição dada pela Copa: no Brasil, só não quer divertir-se com a Copa, quem tem algum benefício com seu fracasso.
Os milhões de cidadãos brasileiros que trabalham duro todo o dia sem padrinhos políticos, sem ONG’s que paguem suas contas, sem vaguinha espúria em gabinete de deputado ou vereador, sem bicos em tribunais de juízos e de arbitragem, esses milhões de cidadãos estão mais que satisfeitos com a Copa. Para essa gente honesta é o momento de descansar, de se divertir. E quem trabalha precisa descansar, precisa de lazer. Quem não precisa de lazer nem de descanso é quem não trabalha, quem está lotado em cabides de emprego fantasma do funcionalismo público, quem usa sindicatos e organizações para seus próprios interesses, quem aposta no medo e na desordem para subir ao poder e – como é ordinário – lançar-se sobre o erário público. De fato, alguns não gostam da Copa, mas quando o torneio acabar eles vão viajar para Paris e Miami, para fazer a revolução com o chapeuzinho do Mickey na cabeça e Channel 5 na bolsa.
A Copa do Mundo já deu algumas lições dentro de campo, mas as que acontecem fora de campo são igualmente importantes.

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