O Silêncio de Sakamoto, o belo!
- Robson Oliveira

- 6 de jun. de 2018
- 3 min de leitura
Os amigos que frequentam o blog sabem o que penso do personagem Sakamoto I, o belo. Ele tem realmente ideias lindas, pena que são muitas delas irracionais. Mas dessa vez não vou refletir sobre suas belas ideias – há uma penca delas no forno. Não pretendo meditar sobre o que disse Sakamoto, o belo, mas sobre o que ele não disse. Quero falar sobre o silêncio de Sakamoto.
Sakamoto é conhecido por denunciar o trabalho escravo no Brasil, o que é absolutamente louvável. Todos sabem, porém, que se pode fazer coisas boas por razões ruins. Pode-se, por exemplo, defender a saúde da mãe matando o filho. Assim um bem objetivo, que é a saúde materna, pode utilizar um meio mau, o assassinato de um bebê, tornando o ato todo mau; o mesmo pode acontecer, por exemplo, com a denúncia de racismo que se faz contra o vizinho, mas não pelo bem do indivíduo que sofre a agressão, mas por pura inveja. Bem, não posso dizer que Sakamoto I, o belo, é tão vilão. Mas algo é curioso!
Por que o silêncio de Sakamoto a respeito da situação dos médicos cubanos? Em especial, da médica Ramona Matos Rodriguez? Ele demorou mais de 6 meses, desde a notícia do Mais Médicos, para dar uma única palavra sobre o assunto. Mesmo depois do escândalo divulgado pela corajosa médica, que fugiu do programa vergonhoso do governo brasileiro, o blogueiro demorou 9 dias para dar uma palavra sobre a denúncia da médica. Ele que, em outubro de 2012, veiculou notícia que denunciava a marca Zara como ré de escravidão contemporânea (ver aqui); ele que entende a limitação do direito de ir e vir como sinal inequívoco de escravidão (ver aqui); ele que, em 2011, entendia que “pagamentos ínfimos” caracterizavam escravidão contemporânea (ver aqui), ele, que acusou a Zara de escravidão contemporânea de modo subsidiário, mesmo que suas terceirizadas tenham cometido esse crime hediondo sem a anuência da marca (ver aqui e aqui); ele acha que no episódio da médica cubana o caso é diferente. Mas será?
Será, Sakamoto, o belo, que receber 10% do salário ordinário de um profissional, com a mesma função e carga horária, não configuraria pagamento ínfimo?
Será, Sakamoto, o belo, que ser vigiado e ter de avisar aonde se vai para um supervisor (capataz?) cubano não configuraria limitação do direito constitucional brasileiro de ir e vir?
Será, Sakamoto, o belo, que o governo brasileiro pode livrar-se da responsabilidade por essa situação escondendo-se atrás de um organismo que teria terceirizado a contratação?
Sakamoto tem poucas convicções reais. Mas ele se faz defensor de direitos fundamentais, os quais parecem reduzir-se a dois: dormir com quem se quer, fumar o que se deseja. Parece que todo o resto é relativo. Escravidão só é má se for praticada no Pará, da família Sarney; se no Pará, do Mais Médicos, houver algo assemelhado a escravidão, aí não, aí é só aparência e cabe o silêncio. Sakamoto é contra a misoginia, mas quando petralhas ofenderam e caluniaram a médica cubana, Sakamoto fez silêncio; misoginia só é repulsiva se o misógino for conservador, caso seja esquerdista, aí cabe o silêncio. Mas será, Sakamoto, que além das suas péssimas belas ideias, você também é desumano e tergiversa inclusive sobre esses seus pouquíssimos direitos fundamentais?
Será Sakamoto bicéfalo? Ora defende ora ataca o mesmo objeto sob o mesmo ponto de vista, dependendo de quem defenda o quê?









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