O que o verdadeiro catolicismo pensa sobre a homossexualidade – Pe. Matheus Pigozzo
- Robson Oliveira

- 3 de mai. de 2018
- 7 min de leitura
Mais um texto do Pe. Matheus Pigozzo. Ele oferece-nos uma reflexão sobre o lugar da homossexualidade na doutrina. Precioso e preciso, como sempre!
O que o verdadeiro catolicismo pensa sobre a homossexualidade
Antes de qualquer coisa é necessário dizer, com toda sinceridade, que este artigo não tem a intenção de ferir ninguém, nem debater sobre o tema. O presente texto visa expor, de um modo acessível, o que o catolicismo pensa sobre o assunto, a fim de ajudar qualquer pessoa a compreender o que o pensamento católico sustenta sobre a homossexualidade, não necessariamente para que concorde, mas ao menos saiba o que realmente pensa a doutrina católica.
Primeiramente, o pensamento católico, ao observar a natureza com os olhos da razão, enxerga que naturalmente cada órgão humano tem sua função e finalidade. A anatomia do ser humano, no grau mais elementar possível: macho – fêmea, demonstra que os órgãos ligados à sexualidade são feitos para se complementarem. Seu uso natural traz unidade dos diferentes corpos (homem e mulher) e a possibilidade de reprodução, mostrando para que existem. Sendo assim, o católico entende que por leis da natureza, leis estas que fogem ao arbítrio humano, a sexualidade tem um curso e sentido próprios que o homem não pode usar de modo diferente sem ser contrário a esse ditame natural. Portanto, no sentido mais básico, olhando de modo racional para a natureza humana, os sentimentos e ações que motivam os órgãos sexuais, para serem honestos com a finalidade e sentido deles – unidade complementar dos diferentes e livre curso à reprodução – devem ser destinados ao sexo oposto. Se não, seria utilizar os órgãos sexuais de modo contrário ao sentido inscrito na própria natureza.
O pensamento católico, ao reconhecer Deus como Criador, crê que Ele criou a natureza humana e ordenou tudo segundo o que Ele determinou como quer que exista. Portanto, a princípio, desordenar ou desconsiderar a verdade natural e sentido das funções biológicas é impor um comportamento e intenção diferentes do determinado pela sabedoria divina.
Até agora o pensamento católico exposto se baseou segundo a lei natural, partindo da observação da própria natureza. Porém, no que se refere ao tema proposto neste artigo, existe o que a teologia católica chama de lei divina positiva. Ou seja, além de uma observação natural e dedução, existe uma lei estabelecida por Deus que proíbe o uso da sexualidade de modo contrário à natureza.
Um católico crê que Deus se revelou ao homem, mostrou seu amor e seu caminho de salvação. Por ter criado o homem à sua imagem e semelhança, o criou livre e só é possível ama-lO quando se escolhe livremente o bem e a verdade. Como o homem, por ser pequeno, não poderia reconhecer a estrada sozinho, Deus se mostrou a ele; isso o católico crê que fez pela Sagrada Escritura e pela Tradição oral (ensinamento recebido dos apóstolos de Cristo e transmitido). Tanto os livros bíblicos como o ensino recebido dos apóstolos são inspirados por Deus, por isso são regras de fé, vindas do próprio Senhor. Assim como o católico crê que Deus mandou amar o próximo e, por exemplo, viver o desapego material, também crê, pois é a mesma fonte, que condenou o pecado e deu mandamentos concretos para serem observados.
Então veja, para um católico, além da observação natural e da lógica creacional, é dado de fé revelado por Deus que práticas homossexuais são contrárias ao que Deus estabeleceu como aceitável e condizente com a natureza e moralidade humana.
Na Sagrada Escritura, além da clara distinção e complementariedade querida por Deus no relato da criação – “homem e mulher os criou” (Gn 1,27); “o homem deixará seu pai e mãe e se unirá à sua mulher” (Gn 2,24); “sede fecundos” (Gn 1,28) – existem proibições claras de práticas homossexuais – “Não te deitarás com um homem como se fosse uma mulher: isso é uma abominação.” (Lv 18,22). O famoso caso de Sodoma, que é descrito como um grande pecado diante de Deus (Cf Gn 19) etc…
No entanto, se torna mais clara para o pensamento católico a lei positiva de Deus em relação a esse assunto, quando essas condenações vêm do Novo Testamento, pois esse está contextualizado na plenitude da revelação divina. O próprio Jesus ao falar sobre o casamento reafirma o relato da criação – “o homem deixará sua mãe e se unirá à sua mulher” (Mt 19,5). São Paulo traz com exatidão a doutrina cristã confirmando o que Deus estabeleceu no Antigo Testamento e elucidando o ensinamento que os apóstolos receberam, um dos textos sagrados diz: “…mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. or isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.” (Romanos 1,25-27).
São Paulo ainda, aos Coríntios, traz uma lista do que seria considerado práticas injustas que tiram a pessoa do caminho da salvação, o apóstolo faz referência ao homossexualismo – “Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus” (1Cor 6, 9-10).
No testemunho dos chamados “Padres da Igreja”, os primeiros pastores cristãos, enraizados na doutrina que os apóstolos receberam de Jesus, vemos a condenação expressa do que denominam “pecado de sodomia”. Dentre os mestres da patrística estão S. Justino, S. Irineu, S. João Crisóstomo e S. Agostinho.
O pensamento católico, portanto, vê a prática da homossexualidade como imoral, pois entende que é um comportamento contrário à ordem da natureza, ordem essa que foi estabelecida pelo Criador; ajunta-se a essa tese, o que dá mais peso ao posicionamento, o fato de estar na Sagrada Escritura, nos dois Testamentos, a clara proibição divina sobre tal prática e no ensino da Tradição apostólica. Sendo assim, o católico crê que, pela reta razão e pela fé, a prática da homossexualidade é algo não previsto na natureza e não conforme a moral estabelecida por Deus.
O Catecismo da Igreja Católica reconhece que “um número considerável” de pessoas trazem tendências homossexuais (Cf. n 2358). E, de fato, se constata que existem casos em que a tendência surge de traumas e marcas vividas; outros que partem da má formação da consciência – quando, numa idade de maturação psicológica, colocam erros como se fossem normais, sejam as escolas, os amigos, a TV etc. Apesar disso, o Catecismo diz que a gênese psíquica da homossexualidade “continua em grande parte por se explicar” (Cf. n. 2357). O Mesmo catecismo ensina que essa tendência desordenada não é um pecado e que as pessoas que a possuem estão chamadas, como todos os outros cristãos, à santidade e, através de uma vida de castidade, podem viver a perfeição cristã. Devem ser acolhidas “com respeito, compaixão e delicadeza” (Cf. n. 2358).
Ora, o pensamento católico entende que, como um homem casado que tem tendência ou sentimentos a olhar para outras mulheres ou a querer uma relação indigna com a esposa; ou uma pessoa que tem tendência a mentir ou a roubar; ou aquele que tende à embriaguez deve não seguir seu sentimento ou impulso por ser contrário ao que a fé e a justa razão determinam, o homossexual, assim como os outros, deve lutar para adquirir autodomínio e ajustar o que sente e deseja fazer, com a verdade das coisas e a revelação divina.
De acordo com tudo o que foi até agora exposto, entende-se que um católico coerente não pode aprovar o comportamento homossexual sem negar a lógica da ordem natural e sem abrir mão da verdade da revelação de Deus. No que se refere à revelação divina, peguemos, para exemplificar, o mistério da presença real de Jesus na Eucaristia. Um católico crê que Jesus está presente na hóstia consagrada porque na Sagrada Escritura e na Tradição se encontra o relato de que Jesus disse aos apóstolos “isto é o meu corpo (…) fazei isto em memória de mim”. E assim a fé neste mistério existe, pois se crê que as Escrituras e a Tradição são inspiradas por Deus e dizem a verdade que vem dEle. Portanto, não haveria coerência lógica se o pensamento católico cresse em trechos da Revelação e não cresse em outros da mesma fonte.
O pensamento católico entende que a pessoa com tendência homossexual deve, como todos, ser acolhida e receber apoio fraterno e espiritual para buscar ordenar seus pensamentos, sentimentos e comportamentos de acordo com à natureza e à fé, assim como todas as outras pessoas. Ou seja, se se dispõem a isso, estão no caminho de santificação como qualquer outro batizado que busca a comunhão com Deus.
O pensamento católico, por reconhecer que a verdade da sexualidade humana é algo natural, entende que todo o ser humano deve reconhecê-la, por bastarem critérios racionais. Dessa forma, vê como um assunto não necessariamente religioso, mas humano. O católico tenta promover a conscientização deste tema, pois sabe que se o ser humano se volta contra sua própria natureza acaba por não desenvolver sua plenitude e até por se destruir. No entanto, compreende que todos têm livre arbítrio e que cada ser humano tem direito a tomar decisões e escolher caminhos, porém, neste caso, é preciso ter a consciência de que escolhe algo não conforme à natureza e não condizente com o que Deus revelou ao homem. Por isso, o pensamento católico entende como não sendo justo que pessoas com ações homossexuais recebam o reconhecimento de tais práticas como sendo estruturas naturais e familiares e nem que exijam da Igreja os sacramentos enquanto persistirem neste modo de viver.
É contrária à doutrina de Jesus tanto a falta de caridade e violência, como a omissão da verdade. Assim como Ele levanta a pecadora arrependida, a acolhendo, diz igualmente à ela – “não volte mais a pecar” e condena veementemente a persistência dos fariseus na dureza de coração.
A caridade na verdade é sempre um desafio, mas é só assim que há um reto amor. No entanto, o primeiro ponto é saber expor os pensamentos com clareza e paz para que haja diálogo respeitoso. Espero que estas linhas tenham esclarecido um pouco mais o posicionamento católico sobre o tema.
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