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O Pior Inimigo

Não tenho qualquer dúvida que o pior inimigo dos relacionamentos são as expectativas que cada um traz dentro de si. Somos doutrinados a imaginar que o paraíso é aqui, que tudo o que o rapaz precisa pra ser feliz é da menina, por sua vez, a menina crê que sua alegria está nos braços dele, que só é preciso casar e morar numa cabana com seu amor. De fato, há muito tempo somos educados a acreditar que há uma perfeição que nos aguarda, assim que terminarmos aquele curso, aquela faculdade, aquela etapa da vida.

Veja que o pior inimigo do seu relacionamento é você mesmo, que espera demais dos outros. A vida, meu amigo, já dizia Santa Teresa D’Ávila, “é noite ruim, numa pousada ruim”. Passa rápido, mas a qualidade da aventura é péssima. Desejar que seja diferente disso é compreensível, mas esperar que seja diferente é tolice. Enquanto você esperar que os bens desse mundo, inclusive bens importantes como seus cônjuge e filhos, preencham o buraco que traz dentro do coração, você vai amargar tristeza sobre tristeza, vai aumentar exponencialmente seu potencial de infelicidade e vai acabar colocando a culpa da sua tristeza nesses bens que você mesmo escolheu como solução para a vida.

E aí acontece a reviravolta: o rapaz coloca na esposa sua alegria, mas então ela perde a beleza (afinal, a velhice chega pra todos). Aí o cara vai embora e põe a culpa na esposa, que não é mais tão bonita quanto antes. Veja: o safado age errado ao escolher a mulher como fim último da própria vida, a mulher obviamente não consegue atender às expectativas do meninão, aí o cara vai embora e coloca a culpa na mulher. E tem também a esposa, que espera que tenha um matrimônio confortável, apostando no sucesso profissional próprio ou do esposo. Aí chega o desemprego e a mulher vai embora, viver uma aventura qualquer, dizendo que casou pensando em viagens, carros, roupas. Novamente, quem pensou que os bens e conforto eram o fim da vida foi a esposa, mas a culpa recai sobre os filhos e o marido, pois ela culpa-os por gastar seu rico dinheirinho.

E Bento XVI adverte que os homens tendemos a buscar aqui na terra nosso pequeno paraíso. Ele diz:

“Queremos um céu na terra, esperamos e exigimos tudo dela, desta vida e desta sociedade. E na medida em que queremos extrair o infinito do finito, destroçamos a terra e tornamos impossível a convivência numa sociedade ordenada, porque os outros nos parecem obstáculos ou ameaças, já que tiram da vida e do mundo um pedaço que no fundo queremos para nós mesmos” (Bento XVI).

Na medida em que o matrimônio não responde a nossas expectativas, destruímos o próprio relacionamento ao exigir dele o que jamais poderá oferecer, sugando o máximo de bens e prazeres que ele pode ofertar, até machucando os mais próximos a nós. E continua Ratzinger:

“Continua a ser verdade, hoje mais do que nunca, que nada senão Deus é capaz de saciar o homem. Fomos criados de tal maneira que todas as coisas finitas são insuficientes, que precisamos sempre de mais: de um Amor infinito, de uma Beleza e Verdade ilimitadas” (Bento XVI).

Ou os esposos entendem e aceitam o caráter transcendente do matrimônio, ou seus relacionamentos continuarão a ser cemitério de sonhos, necrotério de esperanças, mausoléu de expectativas. Essa verdade antropológica não irá mudar, não importa o que façamos, não importa o que desejemos.

Matrimônio é vocação excelsa. Mas é preciso que o coração esteja habituado a olhar para o alto, a fim de que reconheça a dignidade dessa vocação. Se o namorado vive a chafurdar o focinho cotidianamente atrás de brechas pelas quais retira todo o prazer que as coisas podem lhes dar, se a noiva jamais deixa escapar um momento de sugar cada gota de esperança desses bens que as cercam, dificilmente eles conseguirão contemplar a beleza de seu matrimônio e vão cair muito provavelmente nas armadilhas comuns, nas quais tropeçam todos aqueles que esperam para depois de amanhã a felicidade que tanto desejam.

Esse mundo paga muito mal nossos esforços. Esperar que o matrimônio sacie a sede de beleza que trazemos dentro do coração é de uma simplicidade quase juvenil. Então o que se busca no matrimônio, alguém pode perguntar. Um companheiro. Uma amiga. Alguém que facilite a jornada, animando-nos quando as forças faltarem, corrigindo-nos quando a direção mudar, apoiando-nos quando a vontade de abandonar a jornada vier. Por essa razão o cônjuge precisa olhar na mesma direção. É muito duro quando vem do esposo ou da esposa a insinuação para desistir da busca pela única verdade que acalma noss’alma.

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