O matrimônio é desconfortável

Minha esposa é uma das pessoas mais inteligentes que conheço. Ela não é só observadora, mas também tem uma incrível capacidade de síntese. Foi dela que ouvi a primeira vez a comparação da vida matrimonial com uma viagem de ônibus. Pode parecer simplória a analogia, mas tem sua verdade.

De fato, nessa vida ninguém está obrigado a dar-se em matrimônio, assim como ninguém está obrigado a viajar acompanhado num coletivo. E se alguém escolhe passar por essa vida sem um cônjuge, terá um assento no ônibus só pra ele. Poderá espalhar-se pelo banco, não terá o desconforto de alguém (eventualmente) roncando ao seu lado, poderá levantar-se ou sentar-se sem precisar uma ação de guerra com 3 horas de antecedência, dentre outros benefícios. Quem escolhe uma companhia, contudo, terá de dividir o assento e abrirá mão do espaço para esticar as pernas, gastará mais recursos com as passagens, enfim, ficará materialmente mais desconfortável na viagem.

O matrimônio é assim: exige que seus membros cedam espaço para que um outro, o cônjuge, participe da viagem. Claro, a presença do outro é benfazeja, é querida, traz alegria, amor, e bens maiores que os custos relativos. Contudo, ainda assim, necessita que se abra mão de confortos e preferências, que se possua mais quantidade de recursos, para que a mesma jornada seja realizada.

Então, se você quer uma vida confortável e tranquila, não se case; se você procura a outra parte da moeda, que o(a) fará encontrar a felicidade perdida nessa vida, por favor, não se case; se você gosta de viagens caras e confortáveis, ouça-me: não se case! Muito provavelmente você não é chamado(a) ao matrimônio ou ainda está longe de alcançar o necessário para se dar a alguém. Se você já se casou, é hora de apertar o cinto e chegar pro lado.

Boa viagem!

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