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O Intelectualóide Grandiloquente

O intelectualóide grandiloquente caminha lado a lado com você, nas ruas das cidades. Ele está na fila do banco, lendo o jornal à sua frente. Senta ao seu lado, na cadeira da universidade. Tem opinião sobre política, cinema e segurança pública nas salas de professores do Brasil. Enfim, esse personagem não é raro, mas é ordinariamente discreto. Contudo, basta aproximarem-se os grandes eventos públicos, as datas comemorativas relevantes – especialmente quando esses eventos têm grande apelo popular – e ele aparece faceiro. Nesses momentos, costuma surgir com ar de superioridade e brada, em latim: Panem et Circences – Pão e Circo! Com a expressão romana, numa paulada só critica o povo, que é por ele acusado de deixar-se enganar por esses eventos alienantes, ao passo que sorrateiramente se coloca acima do povo, como um guru auto-proclamado, pois tem consciência do que acontece e não se deixa manipular. Mas quem é esse personagem curioso?

O intelectualóide grandiloquente é alguém que tem uma deficiência. Ele sofre de hipertrofia aguda do intelecto. Ele acha que tudo o que é importante precisa ser imponente, retumbante (eis o motivo de sua grandiloquência), e necessita ter o carimbo do que ele chama de “alta cultura” (eis a razão pela qual é intelectualóide). Esse personagem curioso não gosta da Copa do Mundo, das Olimpíadas, de pelada na praia, de campeonato de bocha, de Festa de São João, não gosta de todos esses eventos que divertem o povo simples, o povo inculto, o povo que não conhece a capital de Botswana ou as línguas oficias da Bélgica. Ao ceder às atrações, esses eventos acabam por distrair o homem simples, alienando-o do que o intelectualóide acredita ser a única tarefa importante: transformar o Brasil num paraíso político, paraíso adornado com foice e martelo ou com brasões e coroas. Mas não se enganem, o intelectualóide grandiloquente não é apenas um cara boa praça, que gosta de cinema francês, proclama versos parnasianos e ouve música clássica enquanto fuma cachimbo. Na verdade, ele pode ser bem cruel.

No barzinho, por exemplo, à oferta simpática de degustação de goiabada com queijo minas feita pelo garçom, o intelectualóide sorri um sorriso doentio e, incontinente, arremessa o chiste muito bem ensaiado e pleno de superioridade contra o trabalhador: “prefiro Romeu e Julieta no teatro…”, arrancando olhares coniventes e risinhos prenhes de ridicularização e menosprezo contra o homem comum.

No cinema, ele se recusa a assistir filmes que não sejam sobre assuntos importantes. Aliás, prefere documentários. Nunca vê películas sobre o fantástico (a não ser que tenha sido feito em francês e na década de 1930). Esses filmes de Hollywood são, pensa ele, passatempos infanto-juvenis e não merecem que um intelectual da sua extirpe perca tempo tão precioso e incalculavelmente valioso com assuntos de criança.

Finalmente, o intelectualóide grandiloquente é aquele que olha de rabo de olho para o trabalhador, que grita e sofre por causa de um time de futebol. É aquele que olha de rabo de olho para os jovens que vão ver mais um blockbuster, sem compreender as raízes globalistas da indústria do cinema. É aquele que olha de rabo de olho para todo mundo que não é igual a ele. O intelectualóide grandiloquente só não tem a coragem e a salutar prática de olhar de rabo de olho para si mesmo, para ver quão ensimesmado e repleto de autocomplacência se encontra. 

O intelectualóide acredita que esses eventos são distrações que desmobilizam as massas para a única causa que vale a pena lutar: a transformação do mundo. Mas à medida que os intelectualóides grandiloquentes vão se aproximando e se procurando mutuamente, enquanto vão se acasalando e rindo-se intimamente de suas próprias ideias e pilhérias, mais as pessoas vão se afastando desse tipo, desse personagem, dessa figura teatral. E isso acontece porque o intelectualóide não entende o homem de verdade, o brasileiro de verdade. Ele não acredita que o jogo faz parte fundamental do homem e, por isso, é impossível arrancar do homem – e, no caso concreto, do brasileiro – essa paixão pela luta, pela batalha, pela guerra que ocorre no esporte. Ele não conhece o homem real porque prefere construir essa abstração, esse espantalho inventado pela sua mente grandiloquente, a fim de poder rejeitá-lo com mais facilidade.

Certa vez Chesterton disse que o mais importante para um homem de bem era ter filhos e criar porcos. Vejo que nessa miríade de intelectualóides que pululam a cada esquina, não se encontram fraldas, chupetas ou espigas de milho. Fariam muito bem para sua vida intelectual esses personagens se encontrassem alguém para amar e um terreninho para carpir.  

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