Mestre, que devo fazer de bom?
- Robson Oliveira

- 20 de ago. de 2018
- 3 min de leitura
Todo homem é chamado há duas conversões ordinárias: a primeira, a conversão à natureza; depois, a conversão à sobrenatureza. Não pode receber o dom da Graça aquele que ainda se move sob o signo do mérito, que é a negação da Lei. Não reconhecer a Lei é, de certo modo, acreditar na autonomia e autossuficiência, é pôr as fichas nas próprias forças
A pergunta do Jovem Rico a Jesus deve constar na lista das 10 mais de todo jovem cristão convertido. Quando o seguimento de Jesus e do Evangelho se tornam sérios, a primeira atitude consequente é tentar adequar a própria vida aos difíceis e exigentes critérios do Evangelho. Muitos já sangraram o coração silenciosamente, enquanto retorciam internamente a pergunta do jovem rico:
“Mestre, que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?” (Mt 19, 16).
A resposta de Jesus ao moço israelita ecoou pelos séculos e chega aos jovens de nosso tempo, com uma clareza estupenda: “Cumpre os mandamentos” (Mt 19, 17). O Senhor sabe que a juventude é plena de ímpetos e sedenta de objetividade. Basta uma orientação clara para que todo esse furor e coragem sejam orientados na direção correta. Mas no caso do jovem sem nome do Evangelho, ele já era um menino bom, já cumpria tudo o que a Lei Mosaica previa. Por isso, por que o Senhor Jesus perscrutou aquele coração e viu nele um potencial sem tamanho, ofereceu algo mais, algo que Ele não oferecia a todos os que dEle se aproximavam, a perfeição da vida evangélica:
“Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me’ (Mt 19, 21).
Aos que já vivem com seriedade a Primeira Aliança de Deus com seu povo, por meio da Lei Mosaica, Nosso Senhor oferece algo muito mais custoso e profundo, que é a Aliança Nova, fundada sobre seus próprios Corpo e Sangue. E dessa parábola do Evangelho parece brotar um princípio, uma norma que ilumina outras áreas da vida de fé e da vida prática dos crentes. De fato, Nosso Senhor parece propor que haja etapas para o anúncio do Evangelho, de tal sorte que não se pode esperar sucesso no anúncio da Graça aos que ainda não foram tocados pelas determinações da natureza. Eis o que diz o Papa Bento XVI sobre o assunto:
“O fato de que na história de Deus apareça em primeiro lugar a lei e a seguir o Evangelho, talvez indique que também hoje, ainda e sempre, de novo, há estádios da proclamação que são irreversíveis. Não se pode pregar a graça a um homem cuja consciência emudeceu e que não conhece os valores morais mais corriqueiros. Para que ela possa intervir, ele deve saber primeiro que é um pecador. A primeira conversão é e continua sendo a conversão para a ‘lei’” – Fonte.
Não é que a Lei supere a Graça, de modo algum. Mas a Graça só é recebida por quem reconhece dela estar precisada e a consciência do pecado nasce justamente da audiência amorosa da Lei. O Jovem Rico, o jovem sem nome, tinha clareza de sua situação de pecado e, por isso, foi-lhe oferecida uma vocação mais alta. Com a alma apegada a esse mundo e a essas comodidades, contudo, deixou o Mestre cabisbaixo não acolhendo o chamado especial.
Todo homem é chamado há duas conversões ordinárias: a primeira, a conversão à natureza; depois, a conversão à sobrenatureza. A primeira, conversão à Lei; a última, conversão à Graça. Não pode receber o dom da Graça aquele que ainda se move sob o signo do mérito, que é a negação da Lei. Não reconhecer a Lei é, de certo modo, acreditar na autonomia e autossuficiência, é pôr as fichas nas próprias forças. Quem não reconhece os gritos da Lei Moral no coração do homem, dificilmente dará atenção aos murmúrios breves e imperceptíveis da Graça na alma do fiel. Aquele que não reconhece o chamado explícito da natureza terá grande dificuldade de atender ao chamado implícito da sobrenatureza. Quem faz ouvidos moucos para os gritos da Lei na consciência porque teria escrúpulos contra os sussurros da Graça no coração do homem?










Comentários