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Homo Volens

O assunto deste post, como denuncia o título, é a liberdade humana. A vontade humana é assunto de estudiosos há muito tempo e vários já escreveram sobre este problema. A faculdade volitiva tem muitas características, dentre elas a possibilidade de agir e de não agir em certas ocasiões. É o que chamamos liberdade. E a possibilidade de agir desta forma ou de outra, ou de não agir desta maneira ou daquela é o que chamamos livre-arbítrio. Acredito não ser necessário aprofundar-se por demais neste aspecto do problema, visto que todos constatam que, durante o decorrer do dia, podemos encontrar várias provas da liberdade humana, seja agindo ou omitindo-se. Basta lembrarmos que poderíamos ou não ter estudado, poderíamos ou não ter rezado, poderíamos ou não ter meditado… A liberdade do homem fica clara no exame do seu dia a dia.

Para ratificar esta realidade alguns pensadores afirmaram que a possibilidade do determinismo traria problemas no campo moral, esvaziando o sentido da vida humana; outros disseram que a liberdade é parte essencial do homem e; no âmbito teológico o determinismo redundaria em consequências funestas. Por exemplo, Adão e Eva não teriam culpa no erro cometido, enfim, ninguém teria culpa de nada, o pecado deixaria de existir e juntamente com ele o valor da Redenção. A análise dos filósofos apenas confirma, de maneiras diversas, o fato da liberdade humana. Entretanto, analisar este tema tão rico apenas no que concerne a sua existência ou não é reduzir tal assunto de forma covarde, por isso procurarei refletir sobre o que vemos.

“O corpo é como o petróleo… é nosso!

Como se pode confirmar, na sociedade hodierna a liberdade enquanto ausência de restrições é cada vez mais exaltada. A frase que marca o positivismo francês inculcou uma falsa independência do indivíduo em relação ao mundo e, principalmente, ao irmão. A afirmação racionalista de que “a minha liberdade termina quando começa a do outro” restringe esta faculdade e transforma-a em uma propriedade humana, sintetiza a liberdade no nível subjetivo. Esta frase causa impacto, pois dá a entender que há um respeito mútuo entre os indivíduos. Contudo, o que ela esconde é um egoísmo perverso, cala um individualismo arraigado.

À luz desta inspiração francesa, na hipótese de sermos absolutamente livres, se formos até os limites da nossa faculdade volitiva, o exercício da liberdade pode tanto fazer-nos responsáveis quanto transformar-nos em tiranos, isto é, enquanto não houver alguma coisa e, principalmente, alguma pessoa a nossa volta, poderemos tudo. E é isto que nos revela a piada acima citada. O homem contemporâneo quer ter ilimitado poder sobre as suas ações; sobre seu corpo; sobre seus pensamentos e acima de tudo; deseja a ausência de dependências, limitações ou vínculos. O homem estaria totalmente livre para fazer o que quisesse já que seu limite mais claro e inviolável é o seu próprio corpo, podendo tratá-lo como quiser. Esta posição poderia tornar-nos algozes de nossa própria natureza, a qual exige ordem porquanto tem leis internas que devem ser respeitadas.

Ora, de fato, ninguém é totalmente independente. Todos estamos sob o auxílio de algo ou alguém. Para estudarmos dependemos, entre outras coisas: de material didático; de professores; de escolas… e esta lista estenderia-se em quantidade e qualidade até níveis de dependências maiores como: de ar; de saúde mental e corporal; de água; de alimento e etc. Portanto, é falso o axioma popular que reza que o homem “nasce só e morre igual”. Este cria apenas um individualismo crasso que isola a pessoa dificultando sua participação e convívio sociais, ao invés de facilitar a solução de seus problemas e a busca da felicidade.

Reprodução – os limites não impedem a viagem


Em suma, as pessoas que reclamam sua auto-afirmação e liberdade total procuram somente ser livres disto ou daquilo, pois para eles qualquer limite que os impeça de responder aos seus apetites são logo taxados de opressores. Tais normas dão ao indivíduo que assim raciocina o sentido de submissão. Contudo, se é verdade como vimos, que há dependências humanas que são inevitáveis, a pergunta que se deve fazer não é: somos livres de quê? senão somos livres para quê?

Também é verdade que a liberdade, como toda ação humana, tende a uma finalidade. A Psicologia afirma que todos os seres humanos, mesmos os loucos e os suicidas, agem somente porque veem nesta ação uma razão de bem. Logo, a liberdade, da qual goza somente o homem, está voltada ao bem de si mesmo ou pelo menos ao que parece bem para o sujeito.

Creio ser lícito concluir que as dependências ou vínculos que o homem cria são de tal natureza que podem escravizá-lo ou de fato libertá-lo. Como disse Gustave Thibon, há dois tipos de dependência no homem: a “dependência viva, que o eleva e a dependência morta, que oprime o homem”. Assim, alguns tipos de vínculos escravizam, pois não são de fato bens, todavia apresentam-se desta forma, prejudicando sobremaneira o desenvolvimento da finalidade do ser racional. Outros, pelo contrário, abrem o horizonte humano, tornando-o de fato livre para alcançar a “melhor forma”. Com efeito, paradoxalmente, a liberdade do homem é mensurada pelo grau e tipo de dependências que este cria e se impõe.

Ao contrário do que se pensa, os limites da nossas vidas não são carências de liberdade nem determinam suas ações , mas são parâmetros que auxiliam a concretização da liberdade a que estamos fadados. Na verdade, pessoa alguma afirma sua liberdade ao pular do 20º andar de um prédio por não aceitar a “dependência humana” em relação ao elevador ou os “limites” da escada de socorro, mas, como é notório, estas restrições funcionam como veículos seguros para a realização do fim a que se propõe, a saber: chegar ao primeiro andar com vida.

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