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Hermenêutica e ciência: Hans-Georg Gadamer e Thomas Kuhn

Atualizado: 5 de fev. de 2024

Comentário: artigo publicado na revista Conhecimento e Diversidade. Trata da relação entre a noção de tradição e o conceito de ciência.

Hermenêutica e ciência: Hans-Georg Gadamer e Thomas Kuhn

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Embora Thomas Kuhn não aborde o tema nesses termos, a questão da valorização da Tradição e da Autoridade já está posta desde sempre na problemática do Paradigma. Sem embargo, a crise que se segue à ciência normal e antecede ao novo Paradigma é nada menos que isso: a tensão entre a Tradição e a descoberta. De fato, em Kuhn o conhecimento científico nunca é construído sobre uma “tabula rasa”, mas sempre em diálogo, sempre em discussão com um Paradigma vigente. Enfim, o conhecimento se move sempre em relação a um Paradigma, seja para contestá-lo, seja para ratificá-lo. É isso que sustenta Gadamer:

Toda experiência é confronto, já que ela opõe o novo ao antigo, e, em princípio, nunca se sabe se o novo prevalecerá, quer dizer, tornar-se-á verdadeiramente uma experiência, ou se o antigo, costumeiro e previsível reconquistará finalmente a sua consis-tência. Sabemos que, mesmo nas ciências empíricas, como Kuhn em particular o demonstrou, os conhecimentos novamente estabelecidos encontram resistências e na verdade permanecem por muito tempo ocultos pelo ‘paradigma’dominante. O mesmo ocorre fundamentalmente com toda experiência. Ela precisa triunfar sobre a tradição sob pena de fracassar por causa dela. O novo deixaria de sê-lo se não tivesse que se afirmar contra alguma coisa.

Não por acaso, Gadamer faz referência duas vezes a Thomas Kuhn em suas obras. A primeira delas foi em 1975, na introdução às conferências realizadas pelo nosso autor em 1958, em Louvain. Quando da edição inglesa destas conferências, Gadamer prepara uma introdução a esta obra, e nela cita Thomas Kuhn. A segunda referência é numa nota da 5ª edição alemã de Verdade e Método (1986 provavelmente). Lá, no capítulo que trata da reabilitação da autoridade e da Tradição, ele se limita a dizer que “esta questão parece ser bem mais complicada desde Thomas Kuhn”.


Na primeira referência, já citada nesta reflexão, Gadamer identifica-se com a reflexão de Kuhn. A percepção de certa semelhança entre os autores parece bastante clara. A valorização da Tradição e o papel do Paradigma no ato do conhecimento têm papéis muito assemelhados, pois em ambos aspectos o processo de aquisição de sabedoria nunca é dado imediatamente e a partir do limbo, mas sempre parte de um horizonte de conhecimento que é aquele do pesquisador ou do cientista.


De fato, Gadamer e Kuhn possuem muitas afinidades. Eles voltam às coisas mesmas, mas não como o movimento do Aufklärung imaginava. Nem um, nem outro tem a pretensão vã de ouvir o objeto ao modo do objeto, pois ambos sabem que, caso se possa ouvir qualquer coisa, só se poderá fazê-lo ao modo do ouvinte. As abordagens cientifi-cistas ou matematistas da realidade são insuficientes menos por seus métodos do que por suas premissas filosóficas exclusivistas.



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