George Orwell - A Mentira Comunista

A Mentira Comunista

George Orwell

“Se ela conseguisse verbalizar seus pensamentos, teria sido para dizer que isso não era o que tinham almejado quando se colocaram a trabalhar anos atrás para a derrubada da raça humana. Essas cenas de terror e assassinato não eram o que ansiavam naquela noite quando o velho Major os agitou para a rebelião. Se, na época, ela pudesse imaginar o futuro, veria uma sociedade de animais libertos da fome e do chicote, todos iguais, cada qual trabalhando com sua própria capacidade, os fortes protegendo os fracos, como ela havia protegido com a perna a ninhada perdida dos patinhos na noite da fala do Major. Em vez disso - ela não sabia por quê -, eles haviam chegado a um período em que ninguém ousava dar opinião, em que ferozes cães rosnando perambulavam por todos os cantos, e em que se vi seus camaradas rasgados em picadinhos depois de confessar crimes chocantes. Não houve pensamento de revolução, rebelião ou obediência em sua mente. Ela sabia que mesmo com o estado das coisas, elas estavam muito melhores do que haviam estado nos dias de Jones e que, antes de tudo, era necessário prevenir a volta dos seres humanos”.

Fonte: ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. Barueri: Novo Século, 2021, p. 80.