Faz de conta que o Alfie é um cachorro
- Robson Oliveira
- 25 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Em 2011, uma enfermeira sofreu ataques nas redes por ter espancado um cachorrinho, que morreu por causa de suas pancadas. O caso foi bastante explorado pelas mídias e, em 2014, a moça foi condenada a 1 ano de prisão. Mais tarde a pena foi comutada em multa de 2,8 mil reais. Outro caso é o da mulher que matou 37 animais, entre gatos e cães, e foi condenada a mais de 10 anos de prisão pelo crime de sadismo. O caso, que aconteceu em São Paulo em 2012, marcou época nesses tipos de processo. E em 2016, um homem foi denunciado por espancar – mas não matar – um cão na região de Araçatuba-SP. A pena determinada pelo juiz foi de 11 meses e 20 dias de regime semiaberto.
Alfie Evans não é um cachorro. Alfie Evans também não é um gato. Alfie Evans é uma criança, uma criança britânica, uma criança muito doente. Ele foi diagnosticado com uma doença degenerativa, uma doença que o vai matando aos poucos. A ciência pode fazer muito pouco por ele. Mas os pais de Alfie querem fazer tudo o que for possível, tudo o que a ciência puder para dar mais um minuto, uma hora, um dia de vida para seu pequeno filho. Mas os médicos que cuidaram de Alfie no Hospital Alder Hey não querem permitir que os pais levem seu próprio filho para a sua própria casa. E não admitem que, levando-o para a própria casa e sendo pessoas honestas e com o direito de ir aonde quiserem, também decidam sair do país para buscar tratamento em outro hospital. Enfim, Alfie é refém de uma equipe médica do Reino Unido, preso em um centro de tratamento.
Mas então os médicos, vencendo judicialmente a família, decidiram que Alfie não conseguiria mais viver e desligaram a ventilação mecânica, que o ajudava a respirar. Mas Alfie não desistiu e está respirando sozinho, sem aparelhos, contra a previsão dos médicos, há mais de 30 horas! E então os pais novamente tentaram tirar o próprio filho do Hospital da Criança Alder Hey. Mas eis que um juiz Hayden os proibiu de fazer isso…
E a equipe médica não está tirando a secreção que sai do nariz de Alfie. A equipe médica não está dando alimentos para Alfie. A equipe médica não está hidratando Alfie. Ora, sem comida e água, que humano sobreviveria? Pois Alfie está sem comer, sem beber e sem cuidados básicos de enfermaria. Os pais é que estão tendo de providenciar esses elementos fundamentais. Até se disse que tiveram de fazer boca a boca no bebê, pois ninguém da equipe médica o fez.
Entenda uma coisa: enquanto você não se indignar com a situação de Alfie, você é – na minha pobre visão – uma fera. Mais próximo dos animais do que dos homens… Se você não derramar ao menos uma lágrima sincera por Alfie, você não tem coração. E não adianta vir falar de pobreza, de bala perdida, de saneamento básico. Não adianta diminuir a dor de Alfie porque ele é uma criança. Ele não tem voz! Na sua boca, todas essas demandas reais são moeda política. Você não fala desses dramas sociais como quem tem o coração na mão e, por isso, eu não respeito suas demandas, não aceito suas críticas. Você não tem piedade! Você é um político! Você joga com a dor do seu irmão desafortunado…
Pois bem, se seu coração é tão duro que você não consegue ver o barbárie tomando nosso mundo a partir daquele hospital britânico; se você é tão obtuso ideologicamente que não consegue perceber o rosto humano esfacelado sob a pele macia de Alfie; se você não percebeu ainda que o ocidente agoniza e morre sob o cueiro do menino britânico, faz só um favor. Faz de conta que o bebê Alfie Evans, de 23 meses, é um animal de estimação. Faz de conta que ele é um “puppy” e finja chorar por ele. Se não porque é um humano como você, chore pois o estão matando de fome e sede, sob o pretexto de protegê-lo. Nenhum cachorrinho, nenhum periquito, nenhum barrigudinho deveria ser tratado assim. E sob o olhar e a batuta de médicos e enfermeiros.
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