Equilíbrio e Obediência: tradicionalistas e tradicionalistas
- Robson Oliveira
- 25 de jul. de 2018
- 7 min de leitura
O tanto de exagero que envolve o problema de certo tradicionalismo, desde Lefebvre, acaba por ocultar as demandas honestas e saudáveis, com respeito à tradição bimilenar da Igreja. Há diversos modos de enriquecer-se da fecundidade litúrgica da Igreja, todos absolutamente permitidos, que passam longe da empáfia, da grosseria, da maledicência e da desobediência dos cismáticos contemporâneos.
Por exemplo, a foto abaixo é de Dom Fernando Rifan, bispo da Administração Apóstolica, celebrando missa no rito extraordinário, na Paróquia de Sant’Anna e Santa Rita de Cássia, em Búzios-RJ. Sem ufanismos, sem fogos de artifício, sem acusações contra esse ou aquele. Simplesmente o bispo foi convidado a pregar a novena às vésperas da padroeira, celebrou missa – com o pároco presente e servindo à liturgia – e foi-se embora.

As pessoas da paróquia ficaram encantadas com a liturgia do rito extraordinário, foi uma experiência memorável, mas nem por isso há rejeição às missas celebradas no rito ordinário. E por quê? Por que a Igreja Católica permite os dois ritos, ambos válidos, para a celebração da Santa Missa. Logo, não há cabimento rejeitar um dos ritos em favor do outro.
Há tradicionalistas e tradicionalistas. Assim como há cristãos e cristãos, políticos e políticos, flamenguistas e flamenguistas. A obediência à doutrina da Santa Igreja é o que difere uns dos outros. A docilidade à Voz de Pedro é a pedra de toque de sua vida espiritual. Nem um passo atrás, nem um passo à frente da Igreja: eis a meta de todo cristão.
Mas infelizmente, nem sempre é assim… Há pessoas que acham que Dom Fernando Rifan, que a Fraternidade São Pio X e outros movimentos de retorno à Igreja Católica desde Lefebvre são traidores. E, sem perder tempo, aumentam altura a altura a seu abismo espiritual. Pois veja!
Em 2016, em Nova Friburgo, iniciou-se outro cisma na Igreja Católica. Dom Richard Williamson, ex-protestante anglicano, agora autodenominado católico tradicionalista, ordenou sem mandato pontifício um bispo, o agora Dom Tomás de Aquino, e iniciou o movimento cismático e que se costuma autodenominar-se Movimento Resistência Católica.
Saibam, todos meus amigos e alunos, que tal movimento é uma cisão da Fraternidade São Pio X, que expulsou o mesmo Dom Williamson de suas fileiras, pois este não aceitou a aproximação à plena unidade com a Igreja Católica, que a Fraternidade vinha fazendo sob o governo de Bento XVI. De fato, sob o Papa Bento, a Fraternidade São Pio X teve suspensa sua excomunhão originada pelo cisma iniciado por Dom Lefebvre, em 1988, e caminhava para sua dissolução. Foi quando Dom Williamson rebelou-se, não submeteu-se a Roma e aos seus superiores imediatos, e criou mais uma cisão.
Ordenando o bispo Dom Tomás de Aquino, em 2016, em Nova Friburgo, novamente sem a permissão do Papa, Dom Williamson está efetivamente excomungado, como diz o Código de Direito Canônico, no Cân. 1382:
O Bispo que, sem o mandato pontifício, confere a alguém a consagração episcopal e, igualmente, quem dele recebe a consagração incorrem em excomunhão latae sententiae reservada à Sé Apostólica.
Os que participam desse cisma costumam defender-se alegando medo, situação de necessidade entre outros argumentos de ordem interior para justificar seu abuso. Como diria Jean-Paul Sartre: mauvaisse foi – má fé. É como o adolescente que põe a culpa em outros por suas escolhas: “foi ela que me forçou, foi a pobreza que me determinou, o medo obnubilou-me a razão”. Como Adão, põe em outra pessoa ou situação a responsabilidade por seus próprios atos. Coisa de moleque! Quem usa a ignorância para justificar erros passados deve agora voltar e sair do erro gerado pela falta de conhecimento, não sentar nessa circunstância e justificar seus males.
Também é comum que se diga que ninguém pode julgar Williamson e os seus outros seguidores, pois o Direito Canônico o proíbe. Mentira! É o próprio Direito Canônico quem afirma e reserva à Igreja o direito de aplicar as penas eclesiásticas aos fiéis, segundo o Cân. 1311:
A Igreja tem direito originário e próprio de punir com sanções penais os fiéis delinquentes.
E ainda: Cân. 1401:
Por direito próprio e exclusivo, a Igreja conhece:1° das causas que respeitam a coisas espirituais ou com estas conexas;2.° da violação das leis eclesiásticas e de tudo aquilo em que existe a razão de pecado, no respeitante à definição da culpa e à aplicação de penas eclesiásticas.
De tal modo que quem decide se algum fiel está ou não está em comunhão não é a consciência do fiel (aliás, é bastante estranho alguém apelar à ignorância ou ao medo para justificar atos de ilegalidade e imoralidade. De princípio, se se ignora, não se conhecem as leis). Tal situação é justamente o que se chama relativismo moral ou mesmo indiferentismo ético, que afirma ser impossível a alguém saber se um ato é bom ou mal. Muito estranho vir de religiosos tão rigorosos com os outros uma sentença tão próxima do relativismo moral, logo deles, que rejeitam todo relativismo. Parece que quando o assunto é a atitude deles, a regra muda.
Pois bem, um bispo legitimamente ordenado, um Sucessor dos Apóstolos e em plena comunhão com a Igreja, informa a todos os fiéis qual a situação do tal Mosteiro de Santa Cruz, cujo superior é Dom Tomás, bispo cismático e comandante da tal organização cismática A Resistência. Esse é o texto de Dom Edney, que impõe excomunhão aos cismáticos de Nova Friburgo:
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Nova Friburgo, 18 de março de 2016
NOTA OFICIAL
Ao Clero, religiosos e fiéis leigos da Diocese de Nova Friburgo
Tendo tomado conhecimento da iminente celebração de mais uma ilegítima ordenação episcopal no Mosteiro da Santa Cruz, em nossa amada Diocese de Nova Friburgo faz-se necessário mais uma vez lembrar alguns aspectos importantes.
Afirma-se “ilegítima” porquanto será realizada sem o necessário mandato apostólico de Sua Santidade Papa Francisco. No entanto, como temos comprovado, nem todos atendem às súplicas e propostas generosas de diálogo e empenho pela comunhão plena.
A ordenação episcopal ora em causa será mais uma desobediência ao Papa em matéria gravíssima, num tema de importância capital para a unidade da Igreja, a ordenação dos Bispos, mediante a qual é mantida sacramentalmente a sucessão apostólica. Sem dúvida, mais esta ordenação manifesta a contumácia da desobedência que acarretou a excomunhão há um ano atrás, tanto do Bispo Ordenante Richard Williamson quanto do Bispo que receberá a ordenação, Dom Tomás de Aquino, atual “Prior” do referido Mosteiro.
Não se pode permanecer fiel rompendo o vinculo eclesial com aquele a quem o próprio Cristo, na pessoa do Apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja.
Como Bispo de Nova Friburgo, cabe-me exortar a todos os fiéis católicos para que cumpram o grave dever de permanecerem unidos ao Papa na unidade da Igreja, e de não apoiarem – sobretudo participando – de modo algum essa ordenação episcopal e suas conseqüências. Ninguém deve ignorar que a adesão formal ao cisma constitui grave ofensa a Deus e comporta excomunhão prevista pelo Código de Direito Canônico.
Penso poder garantir em nome de todo o Clero, religiosos e fiéis leigos ao Sucessor de Pedro o Papa Francisco, primeiro a quem compete a tutela da unidade da Igreja, a nossa filial união e obediência. Também este fato será comunicado à Congregação para Doutrina da Fé. De qualquer forma mais este ato ilegítimo e cismático nos oferece a ocasião para refletir e renovar o empenho de fidelidade a Cristo e a sua Igreja.
Finalmente, supliquemos incessantemente a intercessão da Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja, no sentido de que o imperativo das palavras de Jesus na busca pela unidade seja uma exigência que se renove a cada dia: Ut omnes unum sint!
+Edney Gouvêa Mattoso – Bispo Diocesano de Nova Friburgo
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Perceba-se que está passível de excomunhão não apenas quem participou formalmente da ordenação, mas também quem apoiou formalmente a ordenação e suas consequências. Parece-me que frequentar o Mosteiro como ato religioso é apoiar essa divisão e configura essas consequências previstas no documento. Reconhecer Dom Tomás um bispo católico em comunhão plena é, parece-me, admitir as consequências do ato cismático e, portanto, coloca o fiel em excomunhão latae sententiae.
Sei de amigos e ex-alunos que estão sendo convidados a visitarem o “Mosteiro da Resistência”. E não é coisa de há muito tempo. Em aulas fechadas, onde é proibido gravações, procuram demonstrar-lhes que a Igreja está acéfala e que, portanto, ninguém pode julgar nem Dom Tomás, nem Dom Williamson e que, portanto, A Resistência é onde repousa a Igreja. Chamam a Igreja Católica, liderada pelo Papa Francisco, de Igreja Conciliar ou Igreja Modernista .

Em paróquias, inclusive em paróquia perto de minha residência, um professor veio convencer uma comunidade a deixar a Igreja Católica e seguir o sacerdote, que agora está suspenso de ordens e fundou uma dissensão ligada à Resistência. Esse professor conseguiu convencer diversas famílias que, agora, estão no cisma. Contam-se mais de 60 pessoas, com seus filhos, as que deixaram a comunidade católica depois dessa palestra! Os que aderiram ao cisma, convencidos pelo dito professor, chegam a dizer, veja onde chegamos, que ninguém pode afirmar se os membros do tal movimento não são católicos. Falam como se a catolicidade fosse algo de pessoal, algo de fôro íntimo e não eclesial. Assemelham-se à enfermeira abortista que afirma ser católica, apesar de seus atos! É a mesma situação: a enfermeira acredita que seus atos não maculam o que passa dentro da consciência dela. O membro do movimento de resistência cismática acha que seus atos não o afastam da comunhão com a Igreja, do mesmo modo. Erro grave! Quem decide quem está na Igreja ou não é a Igreja, não o fiel. E obedecer a suas orientações é regra número 1 da obediência.
Por essa razão, imploro aos meus amigos e ex-alunos, que se afastem de tais doutrinas, que não aceitem nada que macule a unidade eclesial, pois tais doutrinas não fazem bem nem à Igreja, nem ao Evangelho, nem à sua vida espiritual. Antes, reverberam o antigo Non Serviam, o antigo brado de desobediência a Deus, à Igreja e a seus ministros legitimamente ordenados. E os que participam do movimento A Resistência, meditem se convém seguir um bispo desobediente, ex-anglicano, que atualmente rejeitou a mão da Igreja e que agora está excomungado latae sententiae.
Amemos o Papa, Doce Cristo na Terra! Que Maria, Mãe da Igreja, nos proteja e inspire.
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