Do Cisma à Conversão: de Henrique VIII ao Anglicanorum Coetibus
- Robson Oliveira
- 2 de mai. de 2018
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Do Cisma à Conversão

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1527 – O Rei Henrique VIII (1491-1547) solicita do Papa Clemente VII (1478-1534) a nulidade do matrimônio contraído com Catarina de Aragão (1485-1536), mas o Pontífice nega conceder o que considera um divórcio.
1534 – Henrique promulga o Ato de Supremacia, que formaliza o título de “Chefe Supremo da Igreja e do clero da Inglaterra”. É o cismo do qual nasce a Igreja Anglicana: o soberano é a suprema autoridade jurídica em questões da religião anglicana e o arcebispo de Canterbury, o primeiro em honra. Henrique VIII se opõe a inovações litúrgicas e teológicas muito distantes da tradição católica e não vê com bons olhos os luteranos, que no seu reino são discriminados enquanto os católicos são perseguidos; no entanto, é por sua vontade expressa que as ordens religiosas católicas sofreram com a violência, os santuários foram destruídos, o culto dos santos foi abolido e o uso da Bíblia, em língua inglesa, preferido.
1547 – Sobe ao trono Eduardo VI (1537-1553), filho de Henrique VIII. São introduzidos pela primeira vez doutrinas filoluteranas e o cisma anglicano se transforma em heresia.
1549 – Vem a público o Livro de Oração Comum (LOC), sistematização litúrgica do anglicanismo e veículo da sua doutrina, obra do Arcebispo de Canterbury, Thomas Cranmer (1489-1556). Sofrerá diversas redações e tentativas de revisão, que farão dele um texto constantemente oscilante entre o filocatolicismo e o protestantismo. A edição mais importante e canônica é a “mediana” de 1662.
1558 – Sobe ao trono Elisabeth I (1533-1603). A reviravolta filoluterana imprimida com Cranmer, com o favorecimento do Rei Eduardo, foi parcialmente temperada, mas a escolha cismática é definitiva. A Igreja Anglicana compartilha uma “sistematização” doutrinal, visto como um “catolicismo reformado”, mas “não romano”.
1563 – Cranmer publica a versão final do credo anglicano, os Trinta e nove artigos da Religião, revistos em versão definitiva em 1571.
1833-1841 – Publicação dos Tratados acerca do tempo, 90 opúsculos fruto da reflexão doutrinal da “Alta Igreja” da Inglaterra. Surge o movimento “tractariano”, do qual um dos líderes mais influente é John Henry Newman (1801-1890); deste movimento surge o conhecido “Movimento di Oxford”, que visa a reforma do anglicanismo em sentido conservador, anti-liberal e, de fato, anti-protestante.
1845 – Newman se converte ao catolicismo. Conclui que a própria aventura anglicana “acaba” quando se dá conta que a única defesa possível do “catolcismo reformado” da Igreja da Inglaterra é a sua sublimação na Igreja Católica.
1896 – Papa Leão XIII (1810-1903) publica a Bula “Apostolicae Curae”, com a qual a Igreja Católica não reconhece a validade da sucessão apostólica anglicana, questiona a legitimidade – não só da liceidade das ordenações dos novos bispos ao tempo do cisma, mas considera inválidas as ordenações anglicanas.
1903 – Robert H. Benson (1871-1914) converte-se ao catolicismo, filho do arcebispo de Canterbury. Em 1904 é ordenado sacerdote.
1914 – Christopher Dawson (1889-1970) converte-se ao catolicismo, histórico medievalista e polemista de talento.
1917 – Ronald A. Knox (1888-1957) converte-se ao catolicismo, filho de um bispo anglicano, pastor da Igreja da Inglaterra em 1912, fez-se sacerdote católico em 1918. Grande amigo de Chesterton, apologeta e escritor, traduz para o inglês o texto latino da Vulgata. A amiga escritora Waugh foi a executora literária.
1922 – Converte-se ao catolicismo o famoso escritor Gilbert Keith Chesterton (1874-1936).
1930 – Converte-se ao catolicismo a famosa romancista Evelyn Waugh (1903-1966).
1980 – Vem a público o Livro Alternativo de Serviço, de 1980, (Alternative Book Service), que se junta ao LOC para substitui-lo. É o resultado das diversas tentativas realizadas no século XX, mas sempre falhas, de reformar ulteriormente o LOC.
1982 – Converte-se ao catolicismo o influente jornalista e escritor Malcolm Muggeridge (1903-1990).
1992 – A Igreja da Inglaterra introduz oficialmente a ordenação sacerdotal feminina. Nos dois anos seguintes, cerca de 400 sacerdotes deixaram o anglicanismo pela Igreja Católica. Em 1994 foi ordenado sacerdote católico Graham D. Leonard (1921-2010), ex-bispo anglicano de Londres, convertido após ter deixado aquela Sé por razões de idade, o qual, em 1987, havia ordenado 71 diaconisas na Catedral de São Paulo, embora permanecendo sempre crítico severo das ordenações sacerdotais femininas. Há também diversas figuras políticas, entre elas, em 1993, os parlamentares do Partido Conservador John Gunmer e Ann Widdecombe, que em entrevista ao New Stateman, em 19 de julho de 2010, afirma: «Deixei a Igreja da Inglaterra porque era uma pérola atrás da outra. A ordenação de mulheres é apenas a última na ordem do tempo, uma de tantas. Por anos fui decepcionado com os compromissos da Igreja Anglicana acarca de tudo. À Igreja Católica, pelo contrário, não interessa se algo é impopular».
Fonte: La Bussola Quotidiana
O autor do artigo esqueceu um ponto fundamental. Finalmente, em 04 de novembro de 2009, Bento XVI erigiu um modo especial de adesão dos anglicanos à completa fé da Igreja (Ordinariato Pessoais para Anglicanos que entram na Plena comunhão católica). Este documento é chamado Anglicanorum Coetibus (documento aqui) e constitui um passo enorme e importantíssimo para a volta à comunhão plena com os fiéis que seguiram, durante séculos, a Igreja da Inglaterra.
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