Curtas sobre ciência – 04
- Robson Oliveira
- 5 de jul. de 2018
- 3 min de leitura
Sofro cólicas todas as vezes que vejo âncoras de noticiários jornalísticos falando de “aquecimento global”. Recentemente quem foi o responsável pelas dores no abdômen foi William Waack. Além disso, um reportagem mentirosa do Los Angeles Times merece reflexão.
1. Farsa do Aquecimento Global alimentada pela ONU. Segunda-feira, 21/11, William Waack veiculou no Jornal da Globo que a ONU teme pelos novos índices de concentração de gases “que provocam o aquecimento global“. Essa notícia também pode ser lida no G1, como aponta o link acima, e também no site português da BBC. Acho o Waack excelente jornalista e sei que ele não é editor do noticiário, mas eu seria mais preciso ao emprestar minha voz e credibilidade a notícias sobre ciência, especialmente em temas polêmicos, que envolvem interesses políticos, como é o caso da climatologia e ecologia. Sugiro dois artigos aos que se interessarem pelo assunto: aqui e aqui.
2. Geron Corp quebra e mente sobre os motivos. Uma das gigantes empresas de biotecnologia mundiais, a americana Geron Corp anunciou em novembro que abandonará a pesquisa com células-tronco embrionárias em favor de pesquisas contra o câncer. Depois de anos de recursos humanos desperdiçados e centenas de milhões de dólares investidos sem qualquer resultado positivo, a empresa reconhece o fracasso deste tipo de pesquisa, mas mente sobre os motivos. Segundo a investidora Sabrina Cohen, paralítica desde 1992, é a falta de dinheiro o que dificulta o avanço do progresso nessa área. Não sei quem disse a Sabrina essa mentira, pois a pesquisa com células-tronco embrionárias foi uma das que mais recebeu benefícios e investimentos nos últimos decênios. O que faz com que a orientação dos avanços em biotecnologia tomem outra direção são os fatos, os reais avanços com a pesquisa com células-tronco adultas em todo mundo desautorizam o sério cientista de desperdiçar tempo e recursos em uma pesquisa infrutífera. E ainda que a Geron alcançasse qualquer avanço significativo – o que não é absolutamente o caso! – não se poderá jamais justificar a morte de pessoas humanas em favor de outras. A história reconhece esse abuso e condena essa prática dando nome aos bois: eugenia! E de quem é a culpa desses recursos desperdiçados? Muito dessa conta dever-se-ia cobrar dos cientistas que, voluntária ou ingenuamente, não têm avaliado os fatos científicos de forma mais objetiva e têm se deixado cooptar por discursos ideológicos e pseudo-científicos. Eis o que disse o presidente da Geron, Jonathan Thomas: “Geron pode não se beneficiar de seus anos de investimento (…) mas outras empresas podem se beneficiar de seu pioneirismo“. Vejam: “podem”. Pois é, minha fé está posta e bem segura em outro lugar. Não é curioso que essas pesquisas exijam de nós, cidadãos, uma adesão que habitualmente damos apenas a objetos mui dignos? Não, seu Thomas, minha fé eu reservo a objetos mais perfeitos. Da ciência eu espero respostas.
3. E agora, Mayana Zatz? Em 2008 o Brasil assistiu a uma das mais ridículas cenas da nossa história científica. Refiro-me ao caso da votação do Supremo Tribunal Federal sobre a permissão para a pesquisa com células-tronco embrionárias, que desde 2005, graças ao procurador da República, Cláudio Fonteneles, estava suspensa. Um senso socialesco desmedido quis vender a informação de que as disputas sobre a natureza e sobre a ciência se resolvem nos tribunais; quis se vender que as células se comportariam de tal ou tal jeito por causa do decreto de 11 excepcionais. Naquela época, a bióloga Mayana Zatz festejava o resultado da votação afirmando que a partir daquele dia muitas terapias viriam: “O que podemos prometer é que daremos o melhor de nós. Mas podemos sorrir porque a luz no fim do túnel não se apagou“. Pessoas com paraplegia, cegueira, doenças degenerativas foram levadas ao STF para pressionar os ministros e emocionar a opinião pública, com a promessa de que o futuro da terapia regenerativa era a pesquisa com células-tronco embrionárias. Mas eis que a professora Mayana mudou de opinião: “as verdadeiras células-tronco embrionárias, quando injetadas em camundongos formam um tipo especial de tumor, chamado de teratoma“. Opa! Que mudança, não? O que era causa de júbilo, desde maio de 2011 tornou-se causa de câncer! Mas o melhor é que a Mayana não só verificou, depois de 3 anos, que células-tronco embrionárias causam câncer, mas também elaborou uma nova terapia revolucionária com células-tronco adultas, depois de 8 meses de pesquisa. Sim, 8 meses! Este é o intervalo entre a data do artigo em que ela expõe o perigo das células-tronco embrionárias (e seu suposto abandono) e o anúncio da nova terapia (aqui). Talvez a celeridade de Mayana na pesquisa em biotecnologia mereça um Nobel, ou pelo menos uma menção no livro dos recordes. Pois seria absurdo pensar que durante esses anos ela tenha dito algo no qual realmente não acreditava. Novamente, é a ciência exigindo de mim que acredite em milagres… assim não dá…
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