Crise de humanismo é crise de sentido
- Robson Oliveira
- 1 de mar. de 2019
- 2 min de leitura
A crise de humanismo pela qual passamos é uma crise de sentido. É preciso dizer isso a plenos pulmões: essa geração errou o alvo. Jorge Bergoglio disse, um pouco antes de ser eleito Pontífice:
“Quantos jovens passam suas vidas aturdindo-se com drogas e barulho, porque não têm um sentido, porque ninguém nunca lhes contou que havia algo grande. Quantos melancólicos, também em nossa cidade, precisam de um balcão de bar para ir saboreando dose após dose e, assim, esquecer. Quanta gente boa mas vaidosa, que vive de aparências e corre o perigo de cair na soberba e no orgulho”.
Não é que toda uma geração seja vilã. Nem concebo que todos sejam maus. Parece-me que muitos de nós erramos o alvo – e acabamos nos acostumando com isso. Afinal, quem não se sentiria confortável num carro de luxo? Quem resistiria a uma viagem bacana? Ou por que rejeitar honestos benefícios materiais?
E de fato, não há nada de intrinsecamente mau no conforto, no bem-estar, até no luxo, diria eu. Contudo, parece que esses dons, esses regalos da natureza, acabam por desviar o olhar do homem daquilo que é mais importante. Esses dons materiais funcionam como verdadeiros anestésicos e possuem a capacidade de mudar a orientação geral da vida humana. E essa é a malícia: ao trocar o sentido da vida humana, do bem absoluto a bens relativos, da verdade última a verdades parciais, da beleza sem ocaso a belezas temporárias, o que ocorre é um evidente esvaziamento do correto sentido da vida. Ao permutar o sentido da vida humana para esses simulacros adota-se um não-sentido como orientação genérica para a vida. E então as drogas apresentam seu lado mais destrutivo, pois obscurecem ou mesmo cegam o homem para aquele fim capaz de responder aos anseios mais altos do coração humano.
Obviamente, essa troca nunca acontece sem que o homem pague um alto preço por isso. Não estaria aqui, em grande parte, a origem oculta dos inúmeros casos de depressão, que entopem os consultórios médicos? E a verdadeira ideia fixa por soluções políticas que vemos em nossos dias, não é um sintoma da miopia acerca do que é realmente importante para o homem? Não seria essa a razão profunda porque tantas pessoas se percebem infelizes, mesmo cercadas de sucesso material é profissional? Sem falar da epidemia de suicídio que varre as nações desenvolvidas pelo mundo. Não é curioso que lá onde o paraíso materialista se instaurou, lá onde não faltam bens sociais e de consumo, onde há educação, saúde e segurança garantidos, lá os índices de suicídios sejam alarmantes?
Enfim, qualquer ação política que não contemple a natureza humana tal qual ela é está condenada a repetir os mesmos erros cometidos pelas nações desenvolvidas. Não cabem remendos, quando o assunto é humanismo. Ou se constrói o homem, à luz do que ele deve ser, à luz de sua natureza, ou se produz um monstro politicamente correto, à luz do que ele historicamente fez, à luz da opinião pública. Ocorre que o brasileiro está cada dia mais consciente do que deseja pra si e como se pode alcançar seu objetivo. O cidadão está cada dia mais consciente do sentido que pretende dar à sua própria vida e às instituições.
Commenti