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Corpo e Alma

Há duas posturas intelectuais muito nocivas aos relacionamentos amorosos. E é preciso nomeá-las de uma vez por todas: a primeira é a que trata os homens como se fossem apenas animais, sem nenhuma transcendência. Para alguns, a espiritualidade é uma questão apenas de credo. Parece que é proibido falar de espiritualidade fora de templos. Quando se fala de fé, de valores espirituais, logo aparece o filo-materialista (esse ser estranho que tem fé, mas teme que os saibam) a reclamar: “Ain, mas isso é religião. Assim vai afastar as pessoas…”. Meu bem, religião é ato humano, é uma virtude humana que já Aristóteles (grego, século IV a. C.) dizia ser necessária para a vida feliz e integral dos homens. Para o Estagirita, religiosidade era ato de justiça, uma das virtudes cardeais, uma virtude humana, portanto. Proibir alguém de tocar nesse assunto é, em muitos casos, proibir que se dê o remédio certo para os problemas do casal… O tratamento das questões de relacionamento não pode limitar a reflexão, precisa ser integral. Além do mais, eu não acho que religião seja algo pessoal e indiscutível. Quero dizer que cada um deve buscar as razões para sua crença e – por que não? – para sua descrença. Portanto, não sou adepto de qualquer unidade das religiões, não acredito que elas se resolvem numa religião fundamental, anterior a todas as expressões históricas existentes. Não acredito que seja indiferente ser politeísta ou monoteísta, animista ou cristão – eu mesmo sou cristão e não escondo isso de ninguém. Mas alguém precisa dizer para os casais que não têm fé, que a sua incredulidade é mais um problema que uma virtude. E que pode estar influenciando e ser justamente a causa dos inúmeros problemas que impactam o próprio relacionamento. Afinal, já vimos isso outro dia, é impossível viver sem alguma fé – se não fé religiosa, fé humana. Então, um problema que precisa ser ultrapassado é esse de torcer o nariz quando temas como fé, amor, culto, justiça, oração – temas religiosos por natureza – precisam ser abordados com os casais, mesmo os incrédulos. A saúde dos matrimônios precisa superar esse preconceito, precisa ser tolerante, pois esse pode ser justamente o problema. Afinal de contas, como disse acima, essa reflexão vem lá dos gregos, meio milênio antes do cristianismo. Ter um olhar de transcendência da vida é nada mais, nada menos que uma exigência humana.

Outra postura igualmente perniciosa é a mania de tratar as questões de relacionamento apenas pela perspectiva religiosa. É esquecer que não são só duas almas que se casam, mas também dois estômagos, duas pélvis, dois corações. Essa postura desencarnada é perigosíssima pois não reconhece que a vida a dois é exigente, ignora que são necessárias algumas coisas materiais para que o amor, no homem, possa florescer plenamente, ignora a materialidade e a responsabilidade do homem na condução de sua família, faz pouco de condicionamentos muito importantes para a vida matrimonial. Para esse tipo de perspectiva, a formação humana não precisa ser cuidada com afinco, pois o espiritual substituiria toda falha ou imperfeição que houver. De modo estúpido, ignora-se que o homem é um composto feito de carne e espírito, corpo e alma, natureza e sobrenatureza. E embora seja verdade que a Graça às vezes parece auxiliar grandemente a natureza, nunca acontece de destruí-la, muito menos de substituí-la. A formação humana para o matrimônio é, por essas razões, ponto igualmente sensível para todos os que vão se dar em matrimônio. Não se pode fazer oferta de si (sobrenatureza), se ainda não se possui plenamente (natureza).

Na ética, o meio costuma ser o caminho seguro, sempre: virtus in medio (a virtude está no meio). Mas o meio costuma ser incômodo , apertado, difícil de se manter. Os extremos são sempre mais fáceis, mais amplos, mais claros. Prepare-se, invista no seu relacionamento para que ele tire de você o seu melhor, para que você ajude a outra pessoa a ser melhor. Mas para isso, suspenda esses seus preconceitos bobinhos, esses medinhos adolescentes. Nada do que é verdadeiramente humano é mau. E os valores espirituais devem ser estudados por todos os homens, inclusive os incréus.

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