Ateísmo: começa moralista e acaba hipócrita
- Robson Oliveira

- 12 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Recentemente caiu em minhas mãos um artigo sobre filosofia da religião, cujo título era bastante interessante. Tratava do pretenso “direito” de o homem não crer em qualquer divindade. O texto pretendia igualar o teísmo e o ateísmo, apresentando-os como posturas possíveis em uma sociedade democrática. Fiquei animado com o tema e fui ao texto ávido por ler argumentos e raciocínios que justificassem título tão provocador. Triste esperança…

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O autor do texto, que desconheço pois a revista acadêmica em questão utiliza o modo duplo-cego de análise de seus artigos, desfiou uma sequência interminável de lamentações sobre a maldade humana, sobre doenças abatendo inocentes, tragédias que ceifam milhares de cidadãos, enfim, sobre o mal no mundo, como se esses fatos em si mesmos constituíssem prova de que Deus não existe. A reflexão sobre o texto em questão fez revelar-se um aspecto ainda não pensado sobre o assunto: no fundo do brado ateísta, por detrás do grito contra fé, por debaixo das suas lamentações contra a existência de Deus está o mais simples moralismo! As críticas mais comuns e repetidas sobre a inexistência de um Deus Onipotente resumem-se a um puro e barato moralismo. O ateísmo valoriza o aspecto moral em detrimento de outros modos de abordagem da natureza, como a estética, ou a epistemologia ou o aspecto científico. E deduzem dessa abordagem a impossibilidade da existência de um Deus: Deus deve ser infinitamente bom. O Infinito nega o finito. Ora, o mal existe no mundo. Logo, Deus não pode existir. O argumento ateísta está bastante bem assentado em alicerces moralistas. Assim, curiosamente, os que acusam os crentes de serem moralistas e necessitarem de Deus para explicar suas vidas, igualmente se revelam moralistas não para explicar suas vidas, mas para explicar a inexistência de Deus. Para o ateísmo, o moralismo não é argumento válido para provar a existência de Deus, mas é suficientemente seguro na argumentação contra sua existência. Assim começa o ateísmo, com um moralismo disfarçado. Esse é o argumento de Epicuro:
Deus tem de ser Onipotente, Onisciente e Infinitamente Bom.
Ora, se Deus assim fosse não existiria o mal.
Logo, se existe o mal, ou Ele pode acabar com o mal mas não o faz (o que o torna mal);
Ou Ele não sabe que o mal é mal (o que revela sua ignorância);
Ou Ele sabe sobre o mal, quer acabar com ele, mas não consegue (o que o torna impotente);
De todo modo, o mal exige que Deus não exista.
É também de moralismos que o ateísmo contemporâneo recheia seus argumentos, como é o caso da Escola de Frankfurt. Desvendando os absurdos das Grandes Guerras e do abuso econômico dos mais ricos sobre os mais pobres deduz a Escola que Deus é uma ideia, muito frequentemente criada para confortar pobres e desvalidos. Mas o que começa moralista pode piorar. Rapidamente o espírito “humanista” destes pensadores torna-se hipocrisia. Vem dos governos ateus, muito preocupados com o mal no mundo, deduzindo disto a inexistência de Deus e a proibição da prática religiosa – e até a perseguição dos crentes – as maiores atrocidades contra a humanidade. Rússia e Cuba são exemplos já esmaecidos desta prática. A Coreia do Norte e a Venezuela, que por causa do mal no mundo baniram o teísmo de seu território (primeiro caso) ou o encaixotaram em ideologias políticas (segundo caso), têm matado com requintes de crueldade seus cidadãos hoje (ver link aqui).
E assim percebemos que o ateísmo, que prometia libertar os homens de suas cadeias morais, as recoloca sob perspectiva muito mais cruel, mas ainda mui moralista.









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