A Lei e os Carismas
- Robson Oliveira

- 6 de ago. de 2018
- 2 min de leitura
A Festa da Transfiguração do Senhor possui uma diversidade de significados e ensinamentos sem tamanho. Eu gosto de pensar que os personagens do Antigo Testamento, Elias e Moisés, aparecem no cume do monte por um motivo. Moisés é figura da Lei, dos Mandamentos; Elias representa a profecia, os carismas. Ambos são recepcionados por Jesus no Monte Tabor porque o Carpinteiro de Nazaré, o Filho de Maria, reúne simultaneamente a Lei e os Profetas. Em Jesus encontra-se o termo de toda a Sagrada Escritura, de toda a História da Salvação.
Para além desse aspecto cristológico, há uma outra abordagem possível, nascida da contemplação da cena. O texto de São Marcos diz que os personagens estão a conversar com o Senhor no Tabor, em situação de cordialidade:
Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus (Mc 9, 4).
Moisés e Elias estão conversando com Jesus e, acredito, em situação de afabilidade. A Lei e os Carismas não estão se acusando ou rechaçando mutuamente, como muitas vezes parece acontecer em algumas reflexões. A se considerar algumas hermenêuticas, no Monte Tabor Moisés e Elias estariam se esbofeteando mutuamente, diante de Jesus. Ocorre que é justamente o contrário: a presença de Jesus é que promove o equilíbrio entre a Lei e a Graça, a Ética e os Dons, Moisés e Elias. Pelo contrário, sem o Dom do Filho nenhuma Graça transforma, nenhuma Lei liberta.
Ocorre que o Monte Tabor também pode ser figura das famílias cristãs. Nos lares cristãos a lei e a graça precisam caminhar juntas. Não há verdadeiro matrimônio onde as regras e os princípios mais fundamentais do relacionamento humano são esquecidos. De outro lado, ninguém pode denominar-se família cristã esquecendo das inúmeras graças, dons e benefícios que Deus nos dá para fazer crescer o Evangelho. No Tabor, que é toda família cristã, os esposos precisam fazer a síntese entre as exigências dos Mandamentos e a liberdade da profecia. No Tabor, que é cada família cristã, a doce pena do dever-fazer precisa encontrar-se com o desejo amargo de precisar fazer. E no lar cristão o segredo que explica como o dever e o querer não se contradizem é o amor: o amor exige dos esposos um livre sacrifício, cada dia. E é nessa liberdade de entregar-se uns aos outros que o Dever de Amor se encontra com o Amor ao Dever.

A Transfiguração – Rafael Sanzio









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