A fé atemoriza
- Robson Oliveira
- 13 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Quando a luz do Sol vai deixando os olhos de Abraão e a escuridão espreita, o Santo Patriarca é tomado por um misterioso terror (cf. Gn 15, 12). Terror que não lhe tomou a alma, quando Deus falava de modo misterioso ao homem de Deus, terror que não tomou posse do Pai da Fé, quando fora anunciada sua descendência milagrosa, mas que o invadiu ao perder o controle sobre os fatos a sua volta.

Do mesmo modo, enquanto Pedro, Tiago e João viam os eventos sobrenaturais que aconteciam diante de seus olhos, não lhes ocorria temer qualquer coisa. Antes, estavam encantados e desejavam que o momento se prolongasse indefinidamente. Mas quando a nuvem os cobriu com sua sombra (cf. Lc 9, 34) e perderam o controle visual sobre o que acontecia, um terror os tomou e um medo invadiu suas almas.
De certa forma, esta parece ser uma norma da vida moral: a fé exige uma entrega e comprometimento que causam temor. Com efeito, a perda do controle sobre o mundo a nossa volta, a falta de clareza sobre os eventos que nos cercam, produz medo e insegurança. A fé se apresenta quando as seguranças e controles humanos perdem a eficácia ou se tornam inúteis. Foi assim, com Abraão, foi assim com os Santos Apóstolos, é assim comigo e com você.

E este é um dos maiores desafios das famílias, nestes dias. O cientificismo atual, a mania por controle, a tara por domínio produzem grande dificuldade na vivência da fé. Por que todas as ações precisam ser verificadas e controladas, ao depararem-se com os desafios da vida cristã - aqueles sobre os quais não temos controle -, homens e mulheres casados são tomados pelo temor. Quando entram na nuvem do sofrimento, na sombra do desemprego, nas trevas da falta de controle, as famílias costumam ter sua fé testada. Neste momento, a lembrança da Sarça Ardente precisa mover o fiel. A memória (muitas vezes recente) da Transfiguração precisa ser a fortaleza do casal.
Pois as sombras bem como as trevas só atemorizam os que não internalizaram verdadeiramente o Amor de Deus na Sarça ou no Monte Tabor.
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