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A Crise de Fé e as Respostas a ela: Refletindo sobre o momento atual – Pe. Matheus Pigozzo

O Pe. Matheus Pigozzo oferece mais uma reflexão sobre a família católica e seu lugar no nosso tempo atribulado. Ele põe em destaque o perigo que é buscar a santificação da família e da sociedade à margem da Igreja. Enfim, ele trata do movimento cismático que grassa o Rio de Janeiro e alguns outros lugares do Brasil. Vale a leitura e a meditação.

A Crise de Fé e as Respostas a ela

refletindo sobre o momento atual

Vivemos em nossa sociedade, com toda certeza, o que Bento XVI chamava de “eclipse de Deus”. O homem decidiu esquecer Deus e assistimos despedaçar os fundamentos de nossa sociedade cristã. Essa atmosfera foi respirada por toda nossa geração e traz consequências ruins a todos nós. Nem os lares mais católicos puderam ser totalmente blindados e temos, infelizmente, em nossas bases grande influência do pensamento relativista e materialista.

É evidente que a Igreja, apesar de sua índole santa e imutável, sofre os sintomas de nossa era, pois é feita também de homens presos à história, ela realiza-se na história e seus membros são passíveis de contaminação e falhas.

Tal relativismo está presente no clero e nos leigos. A grande massa de nossos fiéis não vive de acordo com a moral do evangelho e acha que está tudo bem. Muitos de nós, padres, negligenciamos a doutrina, abaixamos o nível da chamada evangélica de santidade e parece que não compreendemos a Liturgia como ensina a fé da Igreja, nossas pregações parecem falas de um programa de auditório sem sal.

No entanto, com o advento e consolidação das redes sociais parece que o ensino da doutrina e o exemplo assim como partilhas de experiências de vida e fé, se espalham e motivam uma maior conscientização da loucura que vive o mundo e da possibilidade de viver um caminho diferente, não novo, mas diferente do atual.

É esperançoso ver como surgem novos brotos na Igreja vivificados pelo orvalho do Espírito Santo. Uma juventude desejosa de fazer diferente, uma busca de conhecimento mais apurado, famílias com verdadeiro desejo de gerar vida e transmitir a fé à prole, novos movimentos e comunidades cheios de boa vontade e espiritualidade, padres com fé na santidade e querendo acertar.

Mas, como o inimigo não dorme, tenho visto que todo esse florescer, toda essa força de vida e verdade, todo esse ímpeto contra o relativismo e secularismo tem caminhado para uma postura não muito sã e que, contraditoriamente, traz em seu bojo uma falta de fé. Alguns acham que a solução para restaurar a sociedade cristã, revigorar a Igreja e fazer sumir o relativismo é crer que após o Concílio Vaticano II tudo foi corrompido e que é preciso rejeitar o desenvolvimento histórico e a compreensão da Igreja assistida pelo Espírito Santo.

Não existe mal em uma espiritualidade tradicional, por sinal tem valores riquíssimos, é ignorância combatê-la em si mesma. Mas alguns têm assumido uma postura não tradicional, mas anacrônica, e de um modo curiosamente revolucionário. Em alguns a piedade e postura religiosa parece ter assumido um caráter de militância e não de amor e santidade.

Crer na Igreja é difícil, mas é essencial pra ser católico. “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Também fico confuso com tanto relativismo, não fecho os olhos para tantas atitudes ditas progressistas e não católicas entre nós, clero. Mas creio que a palavra dEle tem força. E que, como sempre na Igreja, a restauração da mesma vem da lógica do grão de trigo e não da revolução. O que desmonta o relativismo é o amor silencioso e servil, as horas de oração diante do Santíssimo, os sacrifícios escondidos de uma vocação. Não, isso não quer dizer omissão… O candeeiro que ilumina e incomoda se acende assim, não com anarquias e farisaísmo da cartilha esquerdista.

Olhar os testemunhos na história tam

bém podem iluminar nossa era. São Francisco ao perceber uma hierarquia metida com política e fria na fé por esbanjar bens materiais, pediu ao Papa que aprovasse sua regra e fez uma restauração num silêncio que ensurdeceu o mundo. Já um outro personagem, Lutero, encontrando o relativismo moral e vivência mundana de membros da Igreja concluiu que ele estava certo e que era preciso voltar à forma de um cristianismo mais puro e, desconfiando da assistência do Espírito Santo, declara a Igreja estar corrompida.

Veja, tanto são Francisco como Lutero não fecharam e não deviam fechar os olhos para a crise que a Igreja passava cada um em sua época. Não foram indiferentes ao mundanismo espiritual vigente, mas a diferença foi a maneira de reagir perante à turbulência. Um, crendo na Igreja e suas estruturas, outro crendo em sua soberba como se seu protesto revolucionário, aparentemente com motivações santas, fosse mais forte que o trigo plantado pelo Senhor, que sempre vence a semente do mal.

Estamos em um momento de crise no mundo, na humanidade e na Igreja. Não temos que concordar com as ambiguidades teológicas tão comuns hoje, impunidades, e falta de fé. Nunca podemos aceitar orientações contrárias à tradição (proferida em especial pelos Santos Padres – teólogos do início da Igreja) e ao Evangelho. Porém, parece que a resposta para restaurar a Igreja não está numa piedade de resistência, num estilo de vestimenta ou no rito que mais me apraz. O Reino acontece com a busca do amor a Deus, com o serviço humilde, com as renúncias escondidas e com a fé que nos faz acreditar contra toda maré contrária.

Deus fez a Igreja, a Igreja é hierárquica, a assistência do Espírito não deixará que ela pereça. O joio parece sufocar o trigo, mas quem colhe sabe a hora de separar… A verdadeira revolução e radicalidade está na santidade que precisamos buscar. O santo não resiste ao mutável e acidental, o santo resiste até o martírio ao pecado e à apostasia da fé.

É triste ver a batalha dentro de alguns setores eclesiais, uns querendo proibir posturas e gostos não proibidos, e outros querendo impor formas e valorizando demasiadamente fatores não essenciais.

É um momento difícil, mas a Igreja atravessará. Que nós tenhamos a sabedoria de permanecer nela ajudando-a e sendo ajudados por ela.

Pe. Matheus de Barros Pigozzo (Arquidiocese de Niterói-RJ)

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