Ética no Vestuário – I
- Robson Oliveira
- 21 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Na véspera do dia mais importante do ano para os cristãos, no Sábado de Aleluia, reúnem-se em torno do Círio Pascal assembleia e celebrante, rogando a Deus que abençoe o Fogo Novo, aquele que um dia virá novamente, não para aquecer, mas para purgar. Nesta cerimônia belíssima, o celebrante – enquanto fere o Círio com cravos – profere o que para alguns é a bênção mais bela de todo Ano Litúrgico: “Jesus Cristo, ontem e hoje, Alfa e Ômega, Princípio e Fim. A Ele o Tempo e a Eternidade, a Glória e o Poder, pelos séculos sem fim“. O Senhorio de Cristo é proclamado de forma total e absoluta, demonstrando que não há recanto da vida humana, aspecto pessoal ou comunitário que escape ao Seu comando, que resista a seu senhorio.
No entanto, é comum ouvir entre cristãos de diversas denominações, faixa etárias e formação pessoal que há áreas da vida humana onde o Senhor Jesus não entra: por exemplo, há correntes teológicas que expulsaram o Senhor da vida íntima do casal e do cotidiano de sua vida amorosa. Jesus Cristo e sua Igreja podem (para uns devem) legislar sobre economia, sobre política, sobre justiça, sobre direito internacional, mas Ele que não ouse intrometer-se na vida conjugal dos amantes. Entre quatro paredes, dizem tais senhores, e com amor, o Senhor Jesus não impõe qualquer limite ético ao casal (ou dupla, dirão outros). Lá, nesse recôndito da vida do fiel, o Ele não exerce seu senhorio; de outro lado, há quem estabeleça que a vida conjugal também está sob o Domínio do Senhor dos Exércitos, mas a relação patronal ou fiscal não se submete Aquele que é Alfa e Ômega. Tudo bem que eu respeite as normas éticas na vida conjugal, mas que o Senhor não me venha falar de justiça na minha relação econômica com minha empregada doméstica ou com o estagiário na empresa. Dizem as más línguas, não sem alguma razão, que o último órgão do corpo humano a se converter não é a cueca, é o bolso!
Ora, a filosofia nos ensina que todo agente, no momento mesmo da sua ação, visa um fim que organiza e orienta esta mesma ação (omne agens agit propter finem – Santo Tomás de Aquino). A moralidade de toda ação humana herda a bondade ou malícia também dessa orientação, que é sua finalidade ou intenção. Sendo assim, um ato simples, como o ato de escolher o vestuário, está repleto de significados, sejam eles teológicos – visto ser esse também um aspecto que deve submeter-se ao Senhorio do Ressuscitado -, sejam filosóficos – porquanto referem-se a um fim que é intrínseco a toda ação humana. E não se trata só de centímetros, mas de intenções; não se resume a moralismos extrínsecos, mas do seguimento do Ressuscitado.
Embora haja uma discussão sobre a licitude e sobre a oportunidade de se teorizar sobre a vestimenta e sua eticidade, importa reforçar que há, sim, a necessidade de se adequar o vestir às normas éticas e teológicas pelos motivos acima. A não ser que alguém tenha coragem de dizer que Jesus é o Alfa e Ômega, Senhor de Tudo, exceto de vestidos e sobretudos.
Qualquer dia voltamos ao assunto.
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